Queda na taxa de participação faz desemprego parecer menor

    Dois conceitos importantes devem ser considerados quando se analisa o mercado de trabalho. Um é a chamada População em Idade Ativa (PIA) que compreende toda a população acima de 14 anos. O outro conceito é o de População Economicamente Ativa (PEA), que corresponde àquela parcela da PIA que está ocupada ou procurando emprego. A taxa de desemprego é calculada com base na PEA, ou seja, qual a parcela da população economicamente ativa (PEA) que em determinado momento está desempregada e procurando emprego. Esse detalhe – estar procurando emprego –  é importante porque se a pessoa, estando desempregada, resolve deixar de procurar emprego e sai do mercado de trabalho, não será mais considerada desempregada e, portanto, economicamente ativa, embora continue em idade de trabalhar. Dessa forma, a taxa de desemprego que é o resultado da divisão Desempregados/PEA diminui, não porque as pessoas encontraram emprego, mas porque o denominador da fração – a PEA – diminuiu.

    Um terceiro conceito decorrente dos dois anteriores é a taxa de participação. Ela mede a população economicamente ativa – pessoas ocupadas ou procurando emprego, isto é, a força de trabalho – como proporção da população em idade de trabalhar, ou seja, PEA/PIA. Quanto menor a taxa de participação para um certo número de desempregados menor será a taxa de desemprego.

    Conforme informa matéria do jornal Valor (14/6), “Após forte queda durante a pandemia, quando foi de 63,4% em fevereiro de 2020 para 56,7% no trimestre até julho, a taxa de participação no mercado de trabalho brasileiro vinha se recuperando. Chegou a 62,7% em setembro de 2022, ainda abaixo do pico de 63,8% em 2019, mas voltou a cair depois do terceiro trimestre do ano passado, recuando para 61,3% no primeiro trimestre de 2023 – 61,4% no trimestre móvel até abril”. Essa queda na taxa de participação pode ocorrer por vários motivos, mas a razão principal é, quase sempre, a desistência de procurar emprego depois de um longo tempo de desemprego e sem perspectivas de colocação no mercado de trabalho. Nessas condições muitas pessoas optam por se aposentar, caso reúnam atributos para isso, ou se conformam em viver do auxílio de parentes ou do de programas sociais do governo.

    Conforme destaca a mencionada matéria, em 2022, 33,4% das pessoas que saíram do mercado de trabalho não recebiam nenhum tipo de benefício, 6% recebiam o Auxílio Brasil, 23,4% recebiam aposentadoria ou pensão e 3,2% o BPC-Loas. Certamente uma parcela não desprezível dessas pessoas que deixaram o mercado de trabalho o fizeram por não encontrar emprego, uma vez que a queda na taxa de participação se deu em todas as faixas etárias. Isso significa que a atual taxa de desemprego pode estar sendo subestimada. Como informa matéria do jornal Valor (12/6), “A redução da taxa de participação afeta a taxa de desemprego, que estava em 8,8% no primeiro trimestre. Considerando uma taxa de participação na média de 2018 a 2019, de 63,4%, seriam 3,4 milhões de trabalhadores a mais na força de trabalho. Se todo esse contingente decidisse procurar emprego e não encontrasse, o desemprego seria, na verdade de 11,4%, estimam os pesquisadores. “É um cenário extremo, mas a indicação é de que, provavelmente, o desemprego é maior”, diz Fernando Veloso, do FGV Ibre”.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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