Eleições no Equador

    Ocorreu no Equador, no dia 20 de agosto, o primeiro turno das eleições presidenciais antecipadas. As eleições aconteceram em um contexto do agravamento da crise social e política que o país atravessa e que se expressou, durante a primeira fase do processo eleitoral, nos assassinatos do prefeito da cidade de Manta, a quarta mais populosa do país, Agustín Intriago, nos últimos dias de julho, e do candidato à presidência, Fernando Villavicencio, no início de agosto.

    As eleições antecipadas deste mês de agosto são resultado da aplicação pelo presidente Guillermo Lasso, em maio, de um remédio constitucional contra a situação de crise institucional, que se denomina “morte cruzada”, prevista no artigo 82 da atual Constituição do Equador, por meio do qual cessou a função legislativa, mas ao mesmo tempo determinou o encurtamento do mandato presidencial. Um novo presidente e um novo parlamento serão eleitos para completar o período de governo até 2025.

    A aplicação da “morte cruzada” é uma manifestação da crise política provocada pelo confronto entre a tendência progressista que controlava o parlamento nacional e a tendência neoliberal que controla o poder executivo, sem mecanismos de acordo perante um presidente Lasso comprometido com uma aplicação à letra do programa neoliberal de corte do Estado e da via extrativista transnacional de acumulação, também pontuada por denúncias de corrupção na gestão das principais empresas estatais.

    A novidade da situação é o agravamento da crise social, cujos principais sinais são a falta de fontes de trabalho e o aumento das condições de pobreza da população, especialmente nas áreas rurais e urbanas marginais, que encontraram uma forma de escapar do aumento dos circuitos financeiros ilegais e das gangues locais de tráfico de drogas, agora ligadas às máfias transnacionais.

    Os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais, às quais se apresentaram oito candidatos e uma candidata, mostram um resultado em que o primeiro lugar foi obtido pela candidata do partido Revolución Ciudadana, Luisa Gonzales, com 33% dos votos; em segundo lugar está o candidato Daniel Noboa com 23%; em terceiro lugar está o voto concedido ao candidato assassinado Villavicencio, que foi substituído por Christian Zurita, que obteve 16%.

    O partido Revolución Ciudadana, liderado pelo ex-presidente Rafael Correa, é a principal força política do país há algum tempo; de fato, venceu o primeiro turno das eleições presidenciais nos últimos quinze anos. Mas nas eleições de 2021 perdeu no segundo turno, devido à consolidação do candidato de direita, então Guillermo Lasso, devido ao aumento da corrente ideológica do “anti-correísmo”, que consegue reunir todas as outras forças.

    Agora, sua candidata Luisa Gonzales apresentou como principal slogan eleitoral um passado positivo ao qual retornar, com forte presença estatal, expresso no slogan: “vamos ter uma pátria novamente”. Embora a presença da pessoa de Daniel Noboa no segundo turno seja uma surpresa, com 23% dos votos, no fundo, repete-se o cenário político de 2021, quando o rival que disputa com a Revolución Ciudadana é um representante direto dos grandes setores empresariais privados, naquela época era o banqueiro Lasso, agora é o agroexportador Noboa.

    Este novo Noboa apresentou-se como o candidato das novas gerações e foi tão hábil que no plebiscito feito simultaneamente às eleições sobre a proibição da exploração petrolífera na região amazônica de Yasuní,  apoiou o voto Sim. O terceiro lugar é ocupado pelo candidato e pelo movimento liderado pelo assassinado Fernando Villavicencio, que era um crítico contumaz de Rafael Correa, com 16%, em que há presença considerável de ex-militares e policiais em suas fileiras, razão provável de seu assassinato. O candidato dos movimentos de esquerda histórica e que foi líder do movimento indígena, Yaku Pérez, obteve uma votação reduzida de 4% do eleitorado. Um contraste com sua participação em 2021, quando obteve 19% e esteve muito próximo de entrar no segundo turno.

    Ao nível da eleição dos membros da Assembleia Nacional, a Revolución Ciudadana obtém 39% dos votos, isto é, seis pontos a mais que o candidato presidencial. A segunda força política é o partido Construye do assassinado Villavicencio com 20%, isto é 4 pontos a mais que na disputa presidencial e a terceira força é o partido ADN, de Noboa, com 14% do eleitorado, isto é 9 pontos menos que o seu candidato presidencial. No nível parlamentar, aqueles que apoiaram Yaku receberam apenas 3% dos votos. (Relato baseado em artigo de Francisco Hidalgo Flor: Elecciones agosto 2023: logros y declives en el Ecuador).

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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