De onde tirar os recursos para uma mobilização econômica nacional

A globalização e suas instituições exibiram toda a fragilidade no enfrentamento da pandemia do Coronavírus.

Resenha Estratégica – Vol. 17 | nº 17 | 06 de maio de 2020  

Lorenzo Carrasco

Publicamos a seguir um artigo do Dr. Jonathan Tennenbaum, que tem dedicado grande parte de sua vida ao estudo da ciência da economia física. A Capax Dei Editora encomendou ao autor a elaboração de um livro sob o título Economia Física para o desenvolvimento nacional, publicado em 2016, cuja atualidade se fez mais vigente com a eclosão da pandemia de covid-19.

Este evento provocou uma virtual nova guerra mundial, claramente com características distintas das duas grandes guerras do século passado, mas com efeitos na economia e na organização social bastante semelhantes ou, quiçá, ainda piores, pela inusitada desorganização global provocada por eles. A pandemia desmontou inapelavelmente toda a utopia da globalização, com a sua insidiosa ideia subjacente da emergência de uma estrutura de “governo mundial”.

Todas as instituições do pós-guerra, assim como os esforços de integração regional, estão sendo questionados, pela ausência do princípio de solidariedade entre muitas nações, em especial, e ironicamente, as mais desenvolvidas. A carência de respeito ao Bem Comum nos processos decisórios políticos e econômicos em âmbito global, nos quais prevalecem o egoísmo institucionalizado e um consumismo exacerbado, levam à necessidade da reconstrução da ordem política e econômica global.

Na sua obra A guerra do Peloponeso o historiador grego Tucídides criou a teoria segundo a qual a guerra é inevitável quando uma potência dominante conhece o declínio e enfrenta uma potência emergente em ascensão.

O evidente declínio estratégico dos EUA, escancarado pela tétrica resposta do país mais poderoso do mundo à pandemia e sem a necessidade de um conflito bélico na substituição de um poder hegemônico, destrói um dos princípios que tem regido a dinâmica histórica desde o antigo mundo grego, a chamada “armadilha de Tucídides”, descrita no seu clássico livro sobre a Guerra do Peloponeso. Pari passu, o mundo financeiro mundial baseado no sistema de bancos centrais independentes do poder político está cambaleando sob o efeito da embriaguez de bolhas financeira especulativas, novamente alimentadas pelas proverbiais injeções de liquidez dos bancos centrais (as famigeradas “facilitações quantitativas”), que, em vez de apoiar as atividades produtivas da economia real, são direcionadas a toda sorte de instrumentos financeiros especulativos.

O mundo pós-pandemia terá que ser bem diferente. Passada a emergência sanitária, após meses de inatividade econômica, o mundo terá que reconstruir de imediato, não as cidades, fábricas e empresas destruídas pelas bombas, como nos conflitos mundiais anteriores, mas os vasos comunicantes da produção e distribuição dos bens físicos, as relações de solidariedade dentro das sociedades e entre as nações. As alegadas limitações de recursos financeiros para as novas exigências de sobrevivência não passam de embriaguez resultante das insidiosas formulações ideológicas neoliberais, que persistem nas mentes daqueles cujos conhecimentos econômicos deixaram de ser válidos.


Para o Brasil, evidentemente, a resposta necessária não é emitir créditos a torto e a direito, por intermédio das redes de corrupção política existentes, das quais o sistema financeiro e bancário é parte integrante fundamental, mas da administração dos novos recursos por um “gabinete de guerra” dentro de uma mobilização total nacional, que harmonize os vastos recursos humanos disponíveis – grande parte dos quais inaproveitados ou subaproveitados – com as enormes capacidades industriais e tecnológicas nacionais.
Definitivamente, a reconstrução da economia brasileira não passa pelos “mercados” e, por conseguinte, a atual equipe econômica do governo federal nada teria a fazer nos novos tempos, por absoluta incompatibilidade com eles e seus requisitos.

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