Banco Central ignora pressões pela queda dos juros e trava crescimento da economia brasileira

    A decisão do Banco Central de manter a taxa Selic em 13,75% na reunião do Copom realizada no mês de junho frustrou governo e empresários, que esperavam, diante da queda na inflação e da fraqueza da economia, que os juros também começassem a cair, dando, assim, algum fôlego para a economia real, estrangulada pelos juros altos.

    Juros elevados dificultam o crescimento da economia ao encarecer o crédito e, portanto, o consumo, ao inibir o investimento, desviando recursos que poderiam estar sendo aplicados em investimentos produtivos para o mercado financeiro, ao criar dificuldades para as empresas, elevando o custo de seus empréstimos para financiar seu capital de giro. Também é ruim para o governo, pois aumenta o custo de rolagem da dívida pública e diminui a arrecadação de impostos.

    A inflação está em queda – o IPCA de maio foi 0,23%, bem abaixo dos 0,45% esperados pelo mercado – e é provável que se verifique uma inflação negativa neste mês de junho. Os preços das commodities, notadamente os dos combustíveis, estão em queda. O desemprego continua elevado e a renda dos trabalhadores estagnada. O consumo privado desacelera e tem o desempenho mais fraco desde o início da pandemia. Os preços no mercado atacadista já despencaram. A cotação do dólar no câmbio interno caiu quase 10% neste ano. São fatores que tiram força da inflação. Não há, portanto, nenhuma justificativa plausível para se manter uma taxa de juros que faz com que a taxa de juros real no Brasil, por volta de 7%, seja a maior do mundo.

    A chamada taxa de juros natural, ou seja, a taxa de juros interna que se equilibra com a taxa de juros internacional e evita a fuga de capitais é calculada somando-se a taxa de juros internacional ao prêmio de risco exigido pelos investidores externos para colocar recursos no mercado brasileiro mais a expectativa de desvalorização cambial. Tomando como referência a taxa de juros nos Estados Unidos, que está em 5,25% e o atual prêmio de risco do Brasil que está abaixo de 200 pontos, ou seja, 2% e considerando que a expectativa de desvalorização cambial é zero uma vez que se projeta uma taxa de câmbio de R$ 4,85 para o final do ano, teríamos 5,25 + 2,00 + 0 = 7,25%. Com a Selic em 13,75% estamos pagando uma taxa de juros que é quase o dobro daquela que seria necessária para manter investimento e poupança equilibrados com a economia em condição de pleno emprego em uma economia aberta. Na verdade, desde o início do ano ocorreu uma valorização cambial de 10%, o que significa que se um investidor externo trouxe US$ 100 no início do ano e resolvesse agora levar de volta o seu dinheiro, mesmo que a taxa de juros fosse zero ele levaria de volta US$ 110 sem bater um prego.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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