A Amazônia como “garantia” financeira?

Alerta Científico e Ambiental – Vol. 27 – nº 25 – 02 de julho de 2020.

As ameaças abertas de investidores internacionais, de restringirem investimentos no País, a pretexto de uma alegada má condução das políticas ambiental e indígena, na gestão do presidente Jair Bolsonaro, que tratamos na edição anterior (“Para manter o vácuo de soberania na Amazônia, fundos ‘gafanhotos’ chantageiam Brasil”, Alerta Científico e Ambiental, 25/06/2020), precisam ser avaliadas sob uma perspectiva histórica das verdadeiras intenções do aparato ambientalista-indigenista internacional.

Isto porque há, nas autoridades governamentais, uma tendência para reduzir as pressões apenas a interesses comerciais, como uma forma de protecionismo, ou simples desinformação, evitando assim o enfrentamento das causas reais das pressões. Se é um fato estabelecido que as questões ambientais e indígenas têm sido amplamente manipuladas para disfarçar manobras protecionistas, por outro lado, tais pretextos estão longe de representar o foco principal da insidiosa campanha internacional, da qual o Brasil tornou-se um alvo primário a partir de meados da década de 1980, sem contrapor uma resposta consistente, quase invariavelmente, limitada a mostrar um “bom comportamento” diante das pressões e exigências externas. Embora esta conduta tenha mudado no atual governo, contestando a legitimidade de tais campanhas, é relevante retomar o tema e recordar as motivações primárias da investida contra o País.

Debt for nature swap: as potências neocoloniais conceberam a armadilha de se apropriar de recursos naturais em troca de dívidas dos países em desenvolvimento.

O movimento ambientalista foi idealizado, criado e fomentado por setores do Establishment anglo-americano e europeu, a partir da década de 1960, com a finalidade precípua de criar um sistema de soberanias limitadas sobre regiões ricas em recursos naturais e limitar o impulso pró-industrialização que, então, motivava as lideranças e populações dos países subdesenvolvidos, em especial Brasil, Argentina, México, Indonésia e outros.

Desde os primórdios, o conceito malthusiano de “limites” ao desenvolvimento tem sido um pilar central das campanhas ambientalistas, sob rótulos variados – “limites do crescimento”, “desenvolvimento sustentável”, “capacidade de suporte”, “pegada ecológica” e outros, cuja função básica é propalar a falaciosa proposição de uma suposta impossibilidade de extensão a todo o planeta dos níveis de vida dos países avançados (como se dissessem: “somos desenvolvidos mas poluidores, por favor, não repitam os nossos erros”). 

A partir da década de 1980, com a crise das dívidas externas e o advento da “globalização” financeira, a preocupação dos centros oligárquicos do Hemisfério Norte de assegurar o ressarcimento dos seus empréstimos e, ao mesmo tempo, gerar vastos fluxos financeiros para alimentar e amplificar a ciranda que viria a gerar sucessivas “bolhas” especulativas, motivou uma série de iniciativas para forçar os países em desenvolvimento a ceder aos “investidores internacionais” o controle dos seus patrimônios nacionais, primeiro, empresas estatais e, depois, os recursos naturais dos seus territórios. Entre elas, destacam-se os famigerados acordos de trocas de “dívida por natureza” (debt-for-nature swaps), a imposição de condicionantes socioambientais a empréstimos internacionais e, mais recentemente, a extensão desses condicionantes aos fluxos de investimentos, como este Alerta tem acompanhado.

Roma e seu Relatório intitulado Limites do Crescimento organizaram a grande ofensiva neomalthusiana contra o direito ao desenvolvimento.

Dois eventos seminais para a determinação dessa agenda intervencionista foram a divulgação do chamado “Relatório Brundtland” e a realização do Quarto Congresso Mundial de Áreas Selvagens, ambos em 1987. O primeiro, fruto dos trabalhos da Comissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, introduziu o conceito de “desenvolvimento sustentável” e propôs a criação de uma estrutura financeira internacional para a implementação global do conceito, um refinamento da tosca e polêmica ideia dos “limites do crescimento” anteriormente proposta pelo Clube de Roma. O segundo, realizado em setembro daquele ano, em Denver, EUA, reuniu altos representantes dos governos dos EUA e Canadá, agências das Nações Unidas, organismos multilaterais, grandes fundações privadas e bilionários integrantes do Establishment oligárquico, como Edmond de Rothschild e David Rockefeller.

O tema central do Congresso foi a proposta de criação de um “Banco Mundial de Conservação”, para “identificar, desenhar e financiar projetos de conservação sólidos no Terceiro Mundo” – eufemismo para a “monetização” dos recursos naturais desses países, para servir como “colaterais” para empréstimos e fluxos financeiros destinados a uma pletora de atividades especulativas.

Curiosamente, na ocasião, Rothschild demonstrou grande “presciência”, ao apresentar o aquecimento da atmosfera devido às emissões de dióxido de carbono dos combustíveis fósseis, como o maior problema enfrentado pela humanidade. Esta foi uma das primeiras sinalizações sobre o falacioso cenário “aquecimentista”, que, desde então, ganhou contornos de uma virtual histeria coletiva global e um eficiente instrumento de chantagem política e financeira.

Na época, o Brasil foi virtualmente convertido em “vilão ambiental mundial número um”, em especial, com a exagerada difusão dos incêndios na Amazônia Legal e o assassinato do líder seringueiro Chico Mendes, em dezembro de 1988, instantaneamente convertido em “mártir” da proteção da Floresta Amazônica. Tornaram-se, então, recorrentes, insidiosas sugestões para a “limitação” da soberania nacional sobre a região, oriundas de lideranças políticas das potências centrais, a exemplo do presidente francês François Mitterrand (ver nota seguinte). De fato, tomou corpo uma nova forma de guerra irregular neocolonialista: em tanto se lançavam uma ofensiva de propaganda tendenciosa contra o governo brasileiro, forças irregulares na forma de organizações não governamentais (ONGs), ricamente financiadas, ocupavam nichos do governo e ganhavam liberdade de atuação em regiões estratégicas especialmente na Amazônia.

David Rockfeller e a Fundação Rockfeller conceberam e financiaram iniciativas para imobilizar recursos naturais na região da Amazônia, na forma de projetos neocoloniais ou via financiamento de ONGs.

O Fundo Ambiental Global (GEF), estabelecido em 1992, após a conferência Rio-92, foi a concretização do banco idealizado em Denver. Com o GEF e outras iniciativas afins, as potências controladoras do ambientalismo-indigenismo internacional passaram a dispor de instrumentos para pressionar os países-alvo (como o Brasil) a aceitar a agenda ambiental e indígena, sob pena de sanções em suas negociações financeiras internacionais e a atração de investimentos externos.

Outra forma de pressão, repetidamente aplicada sobre o Brasil, é o financiamento a fundo perdido de programas de proteção do meio ambiente e de indígenas, como o Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7), majoritariamente financiado pela Alemanha, EUA e outros países, e o ainda vigente Fundo Amazônia, cujo principal financiador é o governo da Noruega.

Com tais recursos, o País tem sido docilmente enquadrado na agenda ditada do exterior, dispensando os sucessivos governos de investir mais recursos em iniciativas de proteção real do ambiente e das comunidades indígenas, vinculadas ao desenvolvimento socioeconômico, que representa a melhor forma de proteção dos mesmos.

O presidente francês Françoise Miterrand foi uma das vozes, entre tantas, das potências coloniais a sugerir a limitação da soberania brasileira na Amazônia.

A recente agenda de “financeirização” das questões ambientais, em especial, envolvendo o clima global, representa a fase final desse impulso intervencionista e de um virtual caráter neocolonial, sendo que desta vez a “metrópole” não é uma nação específica, mas o conjunto de interesses representados no sistema financeiro internacional. De maneira alguma, o Brasil pode submeter-se a ela.

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4 COMENTÁRIOS

  1. PATRIOTISMO. É O QUE PRECISA URGENTEMENTE SER ESTIMULADO NO POVO BRASILEIRO. O RESTO NOS TEMOS DE SOBRA. POVO CRIATIVO HABITANDO O QUE TEM DE MELHOR NO PLANETA. ?️?️ ABRAM OS OLHOS CONTRA A COBIÇA GANANCIA DOS ACOSTUMADOS A SAQUEAR AS RIQUEZAS DO PLANETA. VAMOS OCUPAR ESTE ESPAÇO SIM. SOMOS CAPAZ. ABAIXO OS ENTREGUISTAS. SIM VENDEM TUDO PRA SE DAR BEM COM AS FARTAS REMESSAS DE DINHEIRO COM FALSOS PROPÓSITOS DE SUSTENTABILIDADE. ” BRASIL PARA BRASILEIROS ” O MUNDO SABE DISSO SÓ FALTA VC ENXERGAR NOSSOS VALORES. FALEI

  2. Oportuno e grandioso, o artigo tratando sobre a exploração da Amazônia. É ridículo que alguém possa imaginar que nós cairiamos neste conto de vigário de baixo nível: Pagar nossas dívidas com recursos naturais é um pensamento facista e facínora. As famílias Rockefeller e Rothschild tem essa amaldiçoada tradição de colonizar para multiplicar um “capitalismo de aço”.
    Sinceramente, Roberto Wanderley

  3. Belíssimo trabalho, excelente argumentação e fatos que realmente prejudica o desenvolvimento brasileiro.

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