Pelé não merece isso

O historiador inglês Tony Judt tinha um raciocínio que serve perfeitamente para a proposta de trocar o nome do Maracanã de Estádio Jornalista Mário Filho para Estádio Rei Pelé. Segundo ele, vivemos uma época em que o passado passou a ser inexistente, foi apagado. Vivemos hoje, continua Judt, a era do imediatismo, nada que existiu antes é importante. O mundo é o agora, sem o aprendizado do passado e sem o sonho do futuro.

A aprovação pela Assembleia Legislativa do Rio da troca de nome de um dos mais famosos estádios do mundo é como passar uma borracha na História. Para refrescar a memória dos imediatistas. Se não fosse Mario Filho, o Maracanã não seria na Tijuca, perto dos ramais de trem e do metrô e sim em Jacarepaguá, como queria Carlos Lacerda. Além disso, Mário Filho criou, isto mesmo, criou a mística do Fla-Flu e revolucionou o jornalismo esportivo.

O jornalista Mário Filho defendeu a construção do Maracanã.

É claro, no entanto, que Pelé é imbatível em “currículo”. Mas não é isso que serve para dar um chute para as arquibancadas nessa ideia de troca de nome. A bola no gol é o respeito ao passado, para não transformar o futuro numa eterna troca de nomes. A História, com H maiúsculo ou minúsculo, como queiram, não pode ficar na mão do agora – ou de deputados estaduais com amnésia ou ignorância.

Como se chamará o Maracanã em 20 anos? Quantos novos nomes, de ocasião, surgirão?

Pelé não merece isso. Nem nós.

Toninho Nascimento
Toninho Nascimento, carioca, nascido em 1960, formado em jornalismo na PUC-RJ. Trabalhou por 23 anos na Globo como editor de Internacional e de Esportes. Foi secretário nacional de futebol do Ministério do Esporte (2013-2015), durante a Copa. Diretor de redação na volta do Jornal do Brasil e esteve cerca de um ano na FSB.

Não há posts para exibir

3 COMENTÁRIOS

  1. Se deputado fosse sugeriria a mudança definitiva para seu apelido em tupi-guarani, MARACANÃ, simplesmente como POPULARMENTE é conhecido

  2. A ALERJ é reconhecidamente um corpo legislativo de pouca produtividade, infestado de corruptos e de custo inversamente proporcional à qualidade dos serviços que presta aos fluminenses (seu orçamento é bem maior que o da ALESP, que representa um estado com população 2,5 vezes maior e PIB três vezes maior que o RJ). Essa iniciativa é típica de uma casa legislativa alienada dos enormes problemas que afetam o estado, multiplicados pela pandemia. E, pior, a despeito de o estádio se chamar Marío Filho desde a década de 1960, quase ninguém o chama por outro nome que não seja Maracanã. Enfim, absoluta falta de sensibilidade e apego à realidade dos ilustres deputados.

Deixe um comentário

Escreva seu comentário!
Digite seu nome aqui