Para sempre Maradona

Diego Maradona

O futebol deu tudo a Maradona: a promoção social ao jovem pobre e mestiço, nascido na favela de Villa Fiorito, em Buenos Aires, o estrelato mundial, o reconhecimento, o carinho, a admiração que poucos seres humanos receberam na história.

Em retribuição, Maradona deu ao futebol o brilho e o talento únicos de que só os gênios são capazes. Seu futebol dionisíaco criou momentos de fúria e lampejos sublimes tocados por um espírito pleno de paixão e criatividade. Os estádios habitados por sua presença fugaz encheram-se da magia única de sua arte.

Depois de Pelé ninguém mais do que ele atraiu as multidões hipnotizadas pela liturgia sagrada de sua performance nos gramados. Fora dos campos foi um rebelde politicamente incorreto em um mundo ameaçado pela ditadura da hipocrisia politicamente correta.

No episódio do gol contra a Inglaterra, na Copa do Mundo de 1986, em que driblou até a alma do almirante Nelson e todos os personagens de Shakespeare e Dickens, Maradona carregava no furor com que conduzia a bola, toda a mágoa argentina acumulada na humilhação sofrida na Guerra das Malvinas.

Os desavisados permanecerão discutindo quem foi maior, Maradona ou Pelé e pouco perceberão o mundo comum vivido por ambos: a pobreza, a exclusão social de onde escaparam graças ao futebol, essa porta generosa e democrática que se abriu no Brasil, na Argentina e no mundo para os jovens pobres, mestiços, negros e mulatos.
Talvez por isso mesmo os pobres sociólogos da bola não alcancem compreender por que esse esporte é a paixão popular nos dois países.

Recentemente seitas identitárias passaram a acusar o futebol também de esporte racista, no esforço de destruir mais um espaço de identidade comum no imaginário do povo. A acusação é prontamente repelida pela história e pela presença no futebol de Pelé e Maradona, que venceram o racismo dentro de campo e fora deles.

A Argentina derramará prantos convulsivos por sua ausência e terá uma Evita ainda mais universal, de calções e chuteiras a compor, talvez, o capítulo mais sofrido de suas tragédias históricas. O mundo lembrará dele, para sempre, com assombro, espanto e admiração por suas jogadas imortais.

• Aldo Rebelo foi ministro do Esporte (2011-2015) e é autor do livro Corinthians e Palmeiras 1945, o Jogo Vermelho, pela Editora Unesp.

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Aldo Rebelo é jornalista, foi presidente da Câmara dos Deputados; ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência e Tecnologia e Inovação e da Defesa nos governos Lula e Dilma.

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2 COMENTÁRIOS

  1. Um brilho eterno na história do futebol mundial. Ele escreveu um capítulo digno na alma dos amantes da sétima arte.
    Sua trajetória iluminada e genial, as vezes polêmica, irônica e cômica mas sobretudo marcante. Maradona ” presente”.

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