Nome oficial do Maracanã deveria continuar a ser Estádio Mário Filho

Jornal O Globo – Editorial – 15/03/2021.

Como se não tivesse o que fazer na pandemia, Alerj comete uma injustiça ao rebatizar o templo do futebol.

É inoportuna e despropositada a mudança do nome do estádio do Maracanã, aprovada pela Alerj, de Jornalista Mário Filho para Edson Arantes do Nascimento, Rei Pelé. Os deputados deveriam estar preocupados com a pandemia que se alastra no país e em discutir ações para enfrentá-la. É isso o que preocupa a população.

Pelé foi um jogador extraordinário, o maior de todos. Mas seu nome poderia estar gravado em qualquer estádio do país, como já acontece em Maceió, onde o Estádio Rei Pelé foi inaugurado em 1970. Mário Filho, em contrapartida, é um nome indissociável da história do Maracanã, do Rio de Janeiro e do jornalismo esportivo. Tanto que, quando morreu, em 1966, tornou-se sem controvérsia o nome oficial do estádio.

Mário Filho foi um intenso promotor dos esportes entre nós. Entre outros eventos, criou os Jogos da Primavera, em 1947, teve a ideia do Torneio Rio-São Paulo, embrião do Campeonato Brasileiro, e ainda lançou termos que se popularizaram, como Fla-Flu. Para não falar no desfile oficial das escolas de samba, outra de suas iniciativas.

Não fosse Mário Filho, o Maracanã, vizinho à Tijuca, de fácil acesso por metrô, trem e ônibus, poderia estar em Jacarepaguá, se dependesse da vontade do vereador Carlos Lacerda. Foi Mário quem promoveu intensa campanha em seu “Jornal dos Sports” para que o estádio, construído para a Copa de 1950, ficasse no terreno do antigo Derby Club, no bairro do Maracanã. Também lutou para que fosse projetado para ser o maior do mundo. Chegou a receber perto de 200 mil pessoas, embora reformas necessárias para modernizá-lo e garantir a segurança da torcida tenham reduzido essa capacidade.

Esporte mais popular do planeta, o futebol acaba por impregnar os locais onde é jogado. Um estádio não é mero amontoado de concreto e aço. Cada um tem sua alma, erguida pela sucessão de feitos extraordinários ou dissabores dolorosos, acumulados por jogadores e torcedores. A alma do setentão Maracanã é a alma de Mário Filho.

É um dos poucos estádios onde se jogaram mais de uma final de Copa do Mundo. A mais dolorosa foi a derrota do Brasil para o Uruguai em 1950, evento que despertou no garoto Pelé o instinto e a fome de bola que o tornaria o maior gênio da história do futebol.

Pelé exorcizou o fantasma de 1950 e viveu momentos de glória nos gramados do Maracanã. Foi na baliza à esquerda da tribuna de honra que marcou o milésimo gol, contra o Vasco. Ele e o Santos, no auge, eram tão queridos pelos cariocas que preferiam jogar no Maracanã algumas partidas internacionais, não em São Paulo. Também foi lá que Pelé marcou em 1961 aquele gol que, identificado por uma placa no estádio, foi o primeiro “gol de placa”.

Continuar a chamar o estádio de Mário Filho em nada desmerecerá as glórias de Pelé, que continua fazendo jus a todas as homenagens dos brasileiros. Há e haverá outras formas de honrar o nome do Rei. Além do mais, todas as torcidas sabem que, independentemente da mudança, o Estádio Jornalista Mário Filho será conhecido como sempre foi: pelo apelido, Maracanã.

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1 COMENTÁRIO

  1. Alterar o nome do Estádio do Maracanã é esquecer a História do Futebol em nosso País.
    Querem alterar o nome do Rio de Janeiro também.
    Deveriam estar preocupados em como ajudar a melhora nosso País.
    Absurdo!!!

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