Artigo publicado no Portal Disparada
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Ontem, o estagiário contratado para dar um perfil lacrador ao twitter de Haddad fez um trocadilho banal (e sem graça) com o nome do apresentador Casagrande, dizendo que havia Casagrande “que valia a pena”.
Por suposto, estava afirmando que as outras casas grandes não valiam a pena.
Imediatamente começou a ser classificado nas redes como RACISTA, isso mesmo, racista, pois, segundo os canceladores, citar a casa grande não tem nenhuma graça.
Se ele citou numa piada, então, segundo essa turba, ele é um “racista recreativo” (aprendi esse novo termo agora, deve ter justificado uma bolsa de quatro anos e uma tese de doutorado qualquer).
Acovardado, apagou o post, mas continuou sendo cobrado por um pedido de desculpas. Esse é o troféu da constrição e submissão que as turbas da lacração cobram para pararem de difamar alguém que, elas acreditam, finalmente deu uma desculpa para elas expressarem livremente todo seu ódio e ressentimento fingindo que estão militando.
Haddad, no entanto, não merece nossa pena. Ele e o PT cultivaram por anos essa cultura política doentia no Brasil e hoje viraram escravos dela.
Como diz o velho ditado espanhol, “Cria cuervos y te sacarán los ojos”.
O desenlace, em se tratando de Haddad e dos políticos que se submetem aos 3% de votos da lacrolândia não poderia ter sido outro. Hoje, sábado 17, Haddad pediu desculpas.
Já existe também um pedido de desculpas padronizado que é aceitável pela turba lacradora. Você precisa reconhecer que 1) Estava errado. Mas não é só. Ainda tem que dizer que 2) não devia ter falado do que não viveu (não tem lugar de fala); 3) não se deve usar o termo em questão de forma nenhuma; 4) é privilegiado; e 5) agradecer pela oportunidade de aprender com o linchamento.
Haddad cumpriu todos os requisitos-padrão em seu ato de penitência e constrição.
A cultura da lacração e do cancelamento criou uma sociedade ainda mais doente do que a de antes. Temos a doença do racismo e do preconceito, mas o “remédio” da lacração e do cancelamento é pior que essa doença que diz querer combater. O motivo é que ele acaba com a liberdade de expressão e força as pessoas que não tem determinada identidade a não discutir mais questões ligadas a ela, sob pena do espancamento social. Como resultado secundário, o preconceito contra algumas identidades só aumenta, porque a lacração aumenta o silêncio e as divisões sociais em grupos onde as pessoas podem falar livremente.
Como se não bastasse, esse deslocamento da luta política das condições concretas de vida da população para o uso da linguagem, além de profundamente ridícula, é um sintoma psicopatológico de fuga do real de efeito profundamente conservador, pois desloca a luta política para mudar como se fala das coisas, enquanto as coisas ficam como estão. Como biscoitinhos de cachorro, o sistema distribui em compensação alguns símbolos de reconhecimento e representação.
Não é justo, no entanto, culpar somente uma esquerda que abandonou o marxismo por esse colapso político. A difusão do pós-modernismo nas faculdades de ciências humanas foi fruto de anos de financiamento de órgãos como a Fundação Ford e o Fundo Soros, assim como sua imposição ao discurso social surge de um trabalho árduo da grande mídia “liberal” em promover essas polêmicas vazias o tempo todo.
O objetivo é tão óbvio quanto possível: deslocar o sentimento generalizado de insuportável opressão e desigualdade de nosso sistema econômico fracassado, responsável por criar o país mais desigual do mundo e com uma das menores mobilidades sociais, para relações de gênero e raça.
O culpado por sua opressão não é mais o bilionário dono de TV ou o banqueiro, não é o sistema que impede a mobilidade social, mas seu vizinho crente.
Hoje essa cultura já se volta contra seus difusores, a cobra começa a se alimentar do próprio rabo. E por quê? Porque só os lacradores mendigam perdão dos lacradores. Se a lacrolândia tenta atacar o Bolsonaro por alguma fala, ele a transforma em mais um milhão de votos.
De longe, rindo, o povo brasileiro rejeita qualquer um que fale como eles e elege qualquer um que fale de Deus, família e nação. Busca desesperadamente a universalidade e estabilidade num mundo estilhaçado em mil identidades em guerra.
Mesmo passando fome e desempregado.
É de tirar o chapéu.
Não “é a economia, estúpido!”