Justiça aos Bandeirantes

    Raposo Tavares (1598-1659)

    Alguém sabe a quem se dedica a data de 14 de novembro? Mesmo em São Paulo poucos vão se lembrar, e outros menos comemorar, que é o Dia do Bandeirante, criado para homenagear uma cepa de homens que no século XVII protagonizaram o movimento de conquista e ocupação do território continental do Brasil.

    Monumento aos Bandeirantes – Vitor Brecheret – Parque do Ibirapuera – São Paulo.

    De símbolos heroicos do pioneirismo, como assinalado por Viana Moog no livro Bandeirantes e Pioneiros, lançado em 1955, hoje sofrem uma deformação da imagem histórica que urge reparar.

    Reconhecidos por estudiosos da seriedade de Gilberto Freyre e Jaime Cortesão, admirados por artistas de visão nacionalista como Monteiro Lobato, Mário de Andrade, Vitor Brecheret e Vinicius de Morais, os bandeirantes têm sido vítimas de um revisionismo que idealiza o passado. Estigmatizados, seus monumentos são pichados em vandalismo político típico de estratos sociais indiferentes às circunstâncias determinantes da História.

    A faceta de homens rudes, caçadores de riquezas, apresadores de índios para a escravidão, se deve ser apontada, não pode ser revisada com valores do presente inexistentes no passado. Seu legado benfazejo vem da marcha geopolítica pelos sertões. Com audácia e sacrifício, palmilharam a terra, alargaram as fronteiras, difundiram a agricultura, praticaram a miscigenação, semearam cidades, protagonizaram o Ciclo do Ouro.

    Ao lado dos índios e caboclos, seguiram a saga que Duarte Coelho, donatário da Capitania de Pernambuco, resumida em carta ao rei de Portugal: “Somos obrigados a conquistar por polegadas as terras que Vossa Majestade nos fez merecer por léguas.”

    Raposo Tavares, em especial, distinguiu-se por incorporar o Sul dominado pela Espanha e empreender a Bandeira dos Limites – jornada de três anos e dez mil quilômetros do Tietê ao Amazonas. Se delineou, também defendeu o território da cobiça estrangeira, indo de São Paulo à Bahia e Pernambuco combater os holandeses que haviam invadido o Nordeste.

    Eles deram chão ao Brasil.

    (Artigo publicado no Portal do Ministério da Defesa, novembro/2015)

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    Aldo Rebelo é jornalista, foi presidente da Câmara dos Deputados; ministro da Coordenação Política e Relações Institucionais; do Esporte; da Ciência e Tecnologia e Inovação e da Defesa nos governos Lula e Dilma.

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    3 COMENTÁRIOS

    1. Diante da anomia na qual se encontra o Brasil, quem mais sofre é, sem dúvida, a educação. Trucidaram nossa história com revisionismo de interesses. De heróis, os bandeirantes foram rebaixados a cruéis escravagistas. Sem valor ou boa reputação, sua data comemorativa foi deliberadamente jogada ao esquecimento. Os bandeirantes não são convenientes ao discurso político de interesses mesquinhos que vigora hoje, e assim como nós, brasileiros miscigenados que não se enquadram em bolhas identitárias, são sumariamente apagados da história.

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