Agência Estado
RIO e ARACAJU – O empresário do setor de cerâmica Sadi Gitz, de 70 anos, foi um dos primeiros a chegar ao auditório do hotel Radisson, em Aracaju, onde seria realizado o Simpósio de Oportunidades, do governo de Sergipe. Com tranquilidade, dirigiu-se à segunda fila da plateia e escolheu sentar-se em uma das extremidades, próximo aos oradores. Concluída a fala do governador Belivaldo Chagas (PSD), e antes que o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, começasse a discursar, pouco depois das 9 horas, Gitz se levantou, chamou pelo governador, gritou a palavra “mentiroso” e se matou com um tiro.
Pela rapidez dos acontecimentos, parte da plateia demorou a compreender o que acontecia. Houve correria, e o evento foi cancelado. O discurso do governador tentou estimular empresários, com frases como “Sergipe desponta como a estrela do gás natural no Brasil”, em referência à descoberta pela Petrobrás de um novo reservatório de gás no litoral do Estado e ao investimento da Exxon na exploração de petróleo e gás.
Amigos de Gitz suspeitam que o gás natural tenha sido a razão pela qual o empresário tenha escolhido o seminário para se matar. Era recorrente sua reclamação contra o preço do gás, que teria, segundo ele, causado a suspensão da operação de sua fábrica de pisos e revestimentos, a Cerâmica Sergipe, localizada em Nossa Senhora do Socorro (SE). A empresa pediu recuperação judicial.
Empresário de destaque, já tendo sido membro da Associação Comercial de Sergipe e do conselho deliberativo do Sebrae, Gitz recorreu à imprensa em maio para divulgar sua desavença com a distribuidora Sergás. “A Cerâmica Sergipe vem a público informar que iniciou neste dia, 15 de maio, processo de hibernação do seu parque industrial. O motivo determinante foi o preço do gás cobrado pela concessionária Sergás, empresa do governo do Estado”, afirmou, em nota, à época. A distribuidora informou que o empresário não cumpriu um contrato assinado e que cobrava dele mais de cem dias de consumo. No segmento de cerâmica, o combustível representa mais da metade dos custos de produção.
Amigo do empresário, o advogado Paulo Brandão contou que costumava se encontrar pelo menos uma vez por semana com Gitz – no último mês, porém, as conversas se limitaram às redes sociais. “Nas mensagens, Sadi reclamava do preço do gás e dizia que isso inviabilizou a empresa dele”, afirmou.
A distribuição de gás natural é uma concessão dos governos estaduais. Em Sergipe, está nas mãos de três diferentes acionistas – governo do Estado, Petrobrás e a japonesa Mitsui. O empresário chegou a se encontrar com o governador Chagas, há dois meses, para falar da questão do gás. Há 15 dias, participou de um encontro com o secretário-chefe da Casa Civil, José Carlos Felizola.
O velório do empresário será no Cemitério Colina da Saudade, em Aracaju, e o corpo será cremado em Alagoinhas (BA). Segundo amigos, Gitz deixou três filhos do primeiro casamento e dois enteados do segundo.
O ministro de Minas e Energia disse lamentar o ocorrido. Entidades como a Fies, federação das indústrias de Sergipe, também divulgaram notas de pesar sobre a morte de Gitz.