A que pátria serve o Itamaraty?

O Itamaraty renega a tradição de altivez e independência da diplomacia brasileira em nome de uma aliança unilateral com os Estados Unidos prejudicial aos interesses nacionais.

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, atuou junto ao presidente Jair Bolsonaro para que o Brasil renovasse por mais 90 dias uma cota de importação de etanol dos Estados Unidos com o objetivo de beneficiar produtores norte-americanos eleitores do presidente Donald Trump.

A questão é que tal iniciativa prejudicaria os produtores brasileiros de etanol, cuja demanda sofreu uma queda decorrente da crise ocasionada pela pandemia. Os mais prejudicados entre os prejudicados seriam os produtores de cana-de-açúcar e de álcool do Nordeste, segundo matéria publicada pelo jornal Folha de S.Paulo e assinada pelo jornalista Ricardo Della Coletta no último dia 31 de agosto.

O embaixador dos Estados Unidos, Todd Chapman, e o ministro Ernesto Araújo unidos em defesa dos produtores de milho e fabricantes de etanol norte-americanos.

A notícia se soma a uma outra publicação anterior da imprensa informando que o presidente do Comitê de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados dos EUA, Eliot Engle, pedira explicações ao embaixador de seu país em Brasília, Todd Chapman, sobre pressões que estaria fazendo a favor do álcool norte-americano, com o argumento de que isso seria importante para o governo Bolsonaro e seu interesse em manter Trump no poder.

Assim, temos uma aliança inusitada do governo brasileiro, via Itamaraty, com o governo norte-americano e sua embaixada em Brasília para beneficiar agricultores e produtores dos Estados Unidos em prejuízo de agricultores e produtores do Brasil.

Os integrantes da Frente Parlamentar da Agropecuária pediram o fim dos privilégios concedidos aos produtores americanos em prejuízo dos agricultores e produtores brasileiros.

A ação de Ernesto Araújo recebeu a resposta da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), cujos integrantes entregaram um documento ao presidente da República defendendo os produtores brasileiros e pedindo o fim do privilégio concedido aos fabricantes de etanol de milho dos Estados Unidos.

É relevante observar que enquanto Ernesto Araújo fazia o movimento em favor do álcool norte-americano o presidente Donald Trump reduzia a cota de importação do aço brasileiro, em ação cruzada de prejuízo aos interesses nacionais. Não esquecer o apoio emprestado pelo mesmo Araújo e pelo ministro Paulo Guedes à imposição de um nome dos Estados Unidos para a presidência do BID contra uma candidatura brasileira.

A câmera de Ibrahim Sued flagrou o gesto de solene subserviência de Otávio Mangabeira beijando a mão de Eisenhower.

O anedotário pátrio exibe episódios lamentáveis de servidão de autoridades brasileiras aos objetivos dos Estados Unidos. Resplende no salão da subserviência nacional o gesto do então presidente da UDN, deputado Otávio Mangabeira, em 1946, durante visita do general e futuro presidente, Dwight Eisenhower, quando genuflexo beijou a mão do comandante militar norte-americano na Segunda Guerra. A imagem de Mangabeira ajoelhado foi colhida pela câmera do então jovem fotógrafo e futuro colunista social Ibrahim Sued.

Juraci Magalhães sabia o que era bom para os Estados Unidos embora não soubesse o que era bom para o Brasil.

Mais tarde, embaixador do Brasil nos Estados Unidos, nomeado pelo Marechal Castelo Branco em 1964, Juraci Magalhães proferiu a frase famosa “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” e adentrou o salão das indignidades frasísticas de autoridades brasileiras.

É reveladora dos tempos difíceis que vivemos a solene omissão do Congresso diante das recorrentes iniciativas contrárias aos interesses nacionais protagonizadas pelo Itamaraty, cujo titular tripudia sobre a tradição de competência e altivez da diplomacia brasileira.

Francisco Afonso Pereira Torres
Analista de política externa e cientista político

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4 COMENTÁRIOS

  1. Nossa diplomacia está se agachando, virando capacho de botequim, atestando burrice para o mundo: nosso país precisa ser ” Terrivelmente reinventado”.

  2. Estamos quebrando tradição e competência : tudo em nome de uma fantasia de província. É o Brazil chorando para ser primo pobre dos estados unidos. Vale relembrar o escritor Pedro nava:” O brasil està sendo cada vez mais governado pelos mortos”.

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