Uma nova onda de infecções pela Covid-19 acendeu os sinais de alerta nos países do hemisfério Norte à medida em que o inverno se aproxima naquela parte do Globo. A principal responsável é a subvariante BA.5 da variante Ômicron, que está circulando amplamente em diversas partes do mundo. Estima-se que a BA.5 é responsável por 2/3 de novos casos nos Estados Unidos, que têm registrado mais de 100 mil ocorrências por dia nas últimas semanas, com um número diário de mortes variando de 300 a 350. A Europa vive a 7ª onda de infecções. Conforme noticiou o jornal Folha de São Paulo, “o boletim mais recente da Organização Mundial da Saúde (OMS), na quinta-feira (22), mostrou que nos sete dias anteriores a Europa concentrou 44% dos novos casos no mundo”. O número de hospitalizações por Covid cresceu 40% na semana passada na França, 34% no Reino Unido e mais de 20% em outros países europeus (Valor Econômico, 18/07).
Embora não haja evidências de que a subvariante BA.5 possa provocar casos mais severos da doença, nomeadamente em pessoas já vacinadas ou que já tiveram a doença, sua capacidade de evadir-se das defesas proporcionadas pelas vacinas ou infecções anteriores é muito grande. Mesmo pessoas que já tiveram a variante Ômicron estão sendo infectadas novamente por essa nova subvariante. O reduzido risco de morte tem levado a que as pessoas, já cansadas da pandemia, não mudem o comportamento mesmo diante do surgimento dessa nova subvariante muito mais transmissível. O Wall Street Journal (19/07) cita o chefe de departamento de medicina da Universidade de Califórnia, San Francisco, Robert Wachter, para quem “parte do que motivou as pessoas a serem supercuidadosas por um longo período foi o medo de que eu vou morrer dessa coisa”. Afastado esse risco imediato é difícil convencer as pessoas a voltar a tomar as mesmas precauções, como usar máscara ou manter o distanciamento social. As pessoas acham que a pandemia acabou.
Mas por mais reduzido que seja o risco de morte ele não é nulo, haja vista o aumento do número de óbitos causados pela doença em todo o mundo. A taxa de mortalidade por Covid-19 ainda está muito maior do que a mortalidade por gripe ou outras doenças contagiosas. O pior, entretanto, é o risco da chamada “Covid Longa” que, pelas estatísticas, tem afetado entre 5% e 7% de todos os infectados. Com o aumento do número de infecções e reinfecções, que deve ser muito maior que os reportados oficialmente, pois a maioria das pessoas deixou de fazer testes ou está fazendo em casa – nos Estados Unidos estima-se um milhão de infectados por dia ao invés dos 100 mil registrados oficialmente – o número de pessoas acometidas pela Covid Longa tende a crescer exponencialmente.
Segundo a OMS, a chamada Covid longa pode aparecer três meses após o início da infecção, com sintomas que duram pelo menos dois meses e que não podem ser explicados por um diagnóstico alternativo. Matéria do Wall Street Journal (08/07) informa que a OMS considera que a Covid Longa é uma condição na qual pessoas que tiveram Covid-19 três meses antes permanecem com sintomas como fadiga grave e problemas cognitivos que duram pelo menos dois meses. Independentemente de como se define, os números são assustadores: pesquisadores que analisaram os registros de pacientes da Administração de Saúde dos Veteranos, nos Estados Unidos, calculam que 4% a 7% dos pacientes infectados com Covid-19 desenvolveram a Covid longa. Segundo a matéria, este número está abaixo das estimativas mais recentes, mas, considerando que a maior parte da população dos EUA parece ter sido infectada, ainda se traduz em milhões de sofredores.
Segundo os pesquisadores, além do risco de experimentar sintomas como dificuldade de pensar, as pessoas que tiveram Covid têm risco aumentado de doenças graves, como doenças cardíacas e diabetes tipo 2. Sintomas longos de Covid, como tosse persistente, podem desaparecer, mas doenças crônicas não. Conforme o site do Instituto Butantan, “relatada por mais de 35% dos pacientes investigados pela Fiocruz Minas, a fadiga está no topo das reclamações. O cansaço extremo tem impacto direto na rotina dos pacientes, uma vez que complica a execução de tarefas do dia a dia. Tosse persistente, dificuldade para respirar, perda do olfato ou paladar e dores musculares foram outras queixas observadas. Em alguns casos, o bem-estar mental também foi comprometido. De acordo com a pesquisa brasileira, 8% dos 646 entrevistados relataram sofrer com insônia, 7,1% com ansiedade e 5,6% com tontura após a infecção por SARS-CoV-2”. De acordo com a pesquisa da Fiocruz Minas, “metade das pessoas diagnosticadas com a doença apresentam sequelas que podem perdurar por mais de um ano”.
Infelizmente, as autoridades de saúde em geral não têm alertado devidamente a população sobre a necessidade de manter cuidados com uso de máscaras, lavagem frequente das mãos e distanciamento social para evitar a contaminação e o resultado tem sido um aumento exponencial de infecções. Mesmo com o risco de morte diminuído, o número das pessoas que irão desenvolver a Covid Longa aumenta, o que pode trazer impactos negativos não apenas sobre a qualidade de vida das pessoas, mas uma sobrecarga nos serviços de saúde pública, aumento de preços dos planos privados de saúde e perda de dias de trabalho. Segundo a já mencionada reportagem, os pesquisadores estimam que as pessoas que tiveram Covid têm 40% mais chance de desenvolver diabetes tipo 2 do que se não tivessem sido infectadas. O custo médio de tratamento, em homens de 45 a 54 anos, é de US$ 106.200, o que nos Estados Unidos, pode significar vários bilhões de dólares em custos adicionais de saúde. Em outros lugares, a situação não deve ser muito diferente.
Sem dúvida é fundamental se prevenir e se cuidar para que essa nova onda não propague tão vorazmente sobre o nosso país. Eu concordo plenamente que as autoridades de saúde no Brasil não têm feito o seu máximo no sentido de informar eficazmente a população a cerca de continuar se cuidando com o uso de máscara e as outras medidas de saúde pública. Excelente artigo, gostei muito!