A Guerra dos Chips

    Em seu esforço para barrar o avanço tecnológico da China, o governo Biden vem ampliando as restrições para o acesso por parte dos chineses às tecnologias para produção de semicondutores avançados desenvolvidas no Ocidente. A justificativa oficial é impedir que a China utilize essas tecnologias para fins militares, pondo em risco a segurança dos Estados Unidos e seus aliados da Otan. Mas o que está realmente em jogo é o receio norte-americano de que a China os ultrapasse como país líder no desenvolvimento de tecnologias de ponta, colocando, assim, em risco a supremacia mundial das empresas norte-americanas na fronteira tecnológica.

    Da mesma forma, a cada vez mais ameaçadora atitude dos Estados Unidos em relação aos esforços da China de promover a reunificação do país, trazendo a ilha rebelde de Taiwan de volta ao regaço da nação chinesa, está diretamente relacionada ao fato de que nenhuma empresa nos Estados Unidos, Europa, Japão ou China está capacitada a produzir os chips mais avançados, utilizados, por exemplo, nos Iphones da Apple. Conforme destaca Cris Miller, autor do livro “Chip War. The Fight for the World’s Most Critical Technology”, publicado em 2022, uma única fábrica do mundo, localizada em um único edifício é capaz de fazê-lo. Trata-se da Fábrica 18, da empresa taiwanesa TSMC – Taiwan Semicondutor Manufacturing Company, que já fabricou cerca de um quintilhão desses chips. Ainda segundo o autor, a indústria mundial de chips produziu, em 2021, mais transistores do que a quantidade combinada de todos os bens produzidos por todas as outras companhias, em todas as outras indústrias, em toda a história humana.

    Um movimento que começou no governo Trump com um foco restrito a uma única empresa chinesa – a Huawei – com o objetivo de impedir que a espinha dorsal da nova rede mundial de telecomunicações – o 5G – fosse construída com equipamentos chineses, foi sendo crescentemente ampliado no governo Biden visando alcançar todas as empresas chinesas de alta tecnologia.

    Depois de uma série de medidas para impedir o acesso das empresas chinesas aos microprocessadores mais avançados produzidos por empresas norte-americanas, o passo seguinte foi proibir que os outros países que utilizem qualquer tecnologia desenvolvida nos Estados Unidos exportem seus produtos para a China. Conforme noticiou o jornal o Estado de São Paulo em 10 de março, “O governo da Holanda impôs ontem restrições adicionais à exportação de máquinas que fabricam chips de processadores avançados, juntando-se a um esforço dos EUA para limitar o acesso da China aos materiais usados na produção de chips. A Holanda é a maior produtora mundial de componentes e maquinários-chave para a fabricação de microprocessadores. O país estava sob pressão dos EUA para adotar restrições semelhantes às impostas pelo governo americano, no ano passado. Os detalhes do que a Holanda e o Japão fecharam com os EUA em janeiro, para limitar as vendas para a China, vieram a público na quarta-feira (08/03). Agora, as empresas terão de solicitar licenças para exportar essa tecnologia”. Ainda segundo o mesmo jornal (09/03), “No ano passado, os EUA aprovaram a Lei dos Chips, um pacote de US$ 52 bilhões para estimular a indústria, reduzir a dependência de países asiáticos e manter o país à frente da China na guerra tecnológica”.

    Como parte do mesmo esforço para impedir o avanço tecnológico da China, o governo americano vem considerando tomar outras medidas restritivas. Conforme noticiou o Wall Street Journal (07/03), “A administração Biden está preparando um novo programa que pode proibir o investimento dos EUA em certos setores na China, um novo passo para proteger as vantagens tecnológicas dos EUA durante uma competição crescente entre as duas maiores economias do mundo”. Ainda segundo o WSJ (09/03), “O Departamento de Comércio dos EUA mirou na quinta-feira mais de duas dúzias de entidades chinesas com restrições à exportação, parte de um esforço mais amplo do governo Biden para mitigar o que diz ser uma crescente ameaça à segurança nacional da China. (…) As listagens de entidades restringem as vendas a empresas-alvo, a menos que os exportadores obtenham uma licença do governo dos EUA. As empresas adicionadas à lista de entidades incluíam subsidiárias da empresa chinesa de genética BGI, da empresa de computação em nuvem Inspur e de várias empresas de eletrônicos”. As empresas chinesas na lista de entidades do departamento de comércio dos Estados Unidos, que já são mais de 600, precisam atender aos requisitos de licença para exportar ou transferir itens específicos, incluindo tecnologia dos EUA.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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