Glauber e Euclides, dos sertões a um novo filme no litoral de Parati

Ubiratan Brasil / Agência Estado

A partir da informação de que o Deus e o Diabo na Terra do Sol (1963-64) é o primeiro filme a dialogar diretamente com Os Sertões, de Euclides da Cunha, o crítico e pesquisador Ismail Xavier apresentou a íntima ligação entre as duas obras, durante o encontro que teve no sábado, 13, com o cineasta português Miguel Gomes, durante a 17ª Festa Literária Internacional de Parati, a Flip. “Em sua alegoria, Glauber Rocha, diretor de Deus e o Diabo, condensa anos e anos de história do sertão, que se transforma em um microcosmo fechado”, afirmou.

Durante a festa, Xavier lançou Sertão Mar – Glauber Rocha e a Estética da Fome (34), obra de 1983 que ganhou edição atualizada Ali, ele, entre outros pontos, renova a atenção aos seus filme pela atenção à forma, além de discutir a atuação política de sua encenação fílmica. “No longa, ele resume meio século de história do sertão na relação do casal protagonista”, observa. “Uma disposição de síntese semelhante à de Euclides, que condensa séculos de evolução da natureza em Terra, a primeira parte de Os Sertões.”

Miguel Gomes ouvia atento as considerações do pesquisador brasileiro. Afinal, em janeiro, ele pretende se mudar provisoriamente para a cidade de Canudos, no interior da Bahia, na região próxima ao cenário real da Guerra de Canudos (1896-1897). Lá, ele deverá rodar seu próximo filme, Selvageria, inspirado na obra de Euclides. “Serão dois anos trabalhando no roteiro: no primeiro, desenvolvi com outros três roteiristas nossa versão do livro; e o segundo vai reunir minha experiência passada na cidade, a partir de 2020.”

Gomes é diretor de filmes instigantes, de narrativas pouco usuais, como Meu Querido Mês de Agosto, Tabu e as três partes de As Mil e Uma Noites. Seu fascínio pela obra de Euclides da Cunha nasceu de uma leitura despretensiosa, durante uma viagem de avião. “Trata-se de uma das mais poderosas prosas da história da língua portuguesa”, elogia ele, que escolheu Selvageria por ser o título que o poeta suíço Blaise Cendrars (1887-1961) pretendia dar para sua tradução francesa de Os Sertões. “Será uma adaptação livre, mas fiel ao original”, garante.  

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