Não é de hoje que os países ricos se utilizam de medidas fitossanitárias e ambientais como instrumentos para proteger seus produtores locais da concorrência externa. O episódio recente do grupo Carrefour que anunciou a suspensão da compra de carne do Mercosul para as lojas de sua rede na França sob o argumento de que não atende aos padrões sanitários do mercado francês é apenas mais um episódio do protecionismo europeu disfarçado de preocupação com o meio ambiente e a saúde pública. Tal atitude não apenas desmoraliza quem recorre a essas medidas, quanto coloca em dúvida as reais intenções dos países ricos quando se manifestam em defesa do meio ambiente e da segurança alimentar.
Diante da imediata reação dos principais processadores brasileiros de carne bovina que suspenderam a entrega de carne para as lojas do grupo no Brasil, o Carrefour tratou logo de se desculpar, embora não tenha manifestado nenhuma intenção de colocar o produto brasileiro nas gôndolas dos supermercados da rede na França.
Atitudes como essa por parte de países e empresas da OCDE representam um enorme desserviço à causa ambiental, pois colocam sob suspeita pessoas, governos e organizações não governamentais dedicadas a essa causa, pois nunca se sabe se atuam de forma desinteressada ou apenas utilizam a bandeira do ambientalismo como biombo para proteger empresas de seus países de origem da concorrência externa ou se assenhorar dos recursos naturais dos países em desenvolvimento.
O caso de uma associação de fazendeiros nos Estados Unidos que há alguns anos produziu um documento entitulado “Farms Here, Forest There” (Fazendas Aqui, Florestas Lá), no qual defendia a necessidade de apoiar o movimento ambientalista nos países em desenvolvimento para impedir que o desenvolvimento da sua agricultura redundasse em queda nos preços das commodities agrícolas, é outro exemplo que só confirma um padrão de comportamento que coloca sob suspeita iniciativas de defesa do meio ambiente, sobretudo quando financiadas por governos e organizações estrangeiras.