A Polônia tem sido, entre os países do leste europeu, um dos mais fiéis aliados da Ucrânia em seu esforço de guerra contra Rússia. Abriu suas fronteiras para receber os refugiados ucranianos e colocou quase todo seu arsenal, que tem a vantagem de ser muito semelhante ao Ucrânia, ambos herdados da antiga União Soviética, à disposição do vizinho. Mas as coisas começaram a azedar nos últimos meses, desde que a Rússia denunciou o acordo que permitia à Ucrânia exportar sua produção de grãos através dos portos do mar Negro.
A causa do desentendimento é que a Polônia e outros países do leste europeu deram o direito de passagem para as exportações de grãos da Ucrânia por seus territórios, desde que os grãos não fossem destinados aos seus mercados locais, mas apenas a mercados anteriormente atendidos pelos portos do mar Negro, nomeadamente a África. Ocorre que as coisas não estão funcionamento conforme o combinado e parte desses grãos está sendo desviada para o mercado local da Polônia e outros países da região, causando uma queda inesperada nos preços que está levando os agricultores poloneses a reterem seus estoques de grãos e se virarem de outras formas para sobreviver, enquanto os preços não se recuperam.
Conforme noticiou o Washington Post (21/9), “A Polônia, um dos mais firmes apoiantes da Ucrânia na luta contra a invasão da Rússia, disse que estava suspendendo novos envios de armas para Kiev, à medida em que as tensões sobre as exportações de cereais continuavam a aumentar entre a Ucrânia e os seus vizinhos da Europa Central. “Não estamos mais transferindo armas, porque agora nos armaremos com as armas mais modernas”, disse o primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki em entrevista na noite de quarta-feira ao Polsat News. “A Polônia apenas cumprirá os contratos existentes e entregará fornecimentos de armas previamente acordados”, esclareceu o porta-voz do governo polaco, Piotr Müller, à Agência de Imprensa Polaca na quinta-feira, dizendo que isso incluía obuseiros de fabricação polaca.
Ele citou “declarações e gestos públicos totalmente inaceitáveis da Ucrânia na decisão”. Ainda segundo o jornal, “Polônia, Hungria e Eslováquia disseram na semana passada que manteriam em vigor a proibição da importação de produtos cerealíferos ucranianos, uma vez que o acordo com a União Europeia expirava. Para a Polônia, o fim do embargo sancionado pela UE ocorreu apenas um mês antes das eleições, nas quais o partido populista de direita Lei e Justiça luta para permanecer no poder. O partido apresenta-se como o defensor dos agricultores polacos e intensificou a retórica contra a UE em eventos de campanha, prometendo proteger os produtores de cereais polacos. As autoridades ucranianas comprometeram-se nesta semana a tomar medidas legais contra a Polônia, a Hungria e a Eslováquia para anular a proibição, embora as hipóteses de Kiev conseguir uma solução rápida parecessem praticamente inexistentes”.
Tais incidentes mostram como a procrastinação da guerra na Ucrânia está afetando negativamente a economia europeia. A Alemanha, por exemplo, impactada, entre outros problemas, pelos altos preços da energia, entrou em recessão e ameaça arrastar consigo o restante da Europa.