Petróleo passa de US$ 90 o barril e deve permanecer assim por muito tempo

    Uma das principais consequências da guerra na Ucrânia foi a desorganização do mercado mundial de energia e a elevação dos preços de petróleo. Aumento do preço de energia tende a provocar inflação que não tem como ser controlada por medidas de política monetária, pois não resulta do aumento da demanda de bens e serviços, contra o que a elevação dos juros pelos bancos centrais supostamente poderia ter algum efeito. É, portanto, uma grande dor de cabeça para os governos e seus respectivos bancos centrais em todo o mundo.

    No sentido oposto, seria viável também considerar um possível efeito deflacionário da guerra sobre os preços do petróleo, na medida em que o conflito poderia levar a um menor crescimento da economia mundial e, portanto, à redução da demanda de petróleo e, consequentemente, do seu preço. No caso da guerra na Ucrânia, isso não ocorreu porque a Rússia, que é um importante produtor de petróleo, está sujeita a pesadas sanções econômicas do Ocidente, que a impede de vender normalmente o produto.  Mais importante, contudo, é o fato de que o cartel da Opep, liderado pela Arábia Saudita, temendo a possibilidade de uma queda na demanda e, consequentemente, dos preços, tratou de reduzir a produção seguidas vezes desde o início da guerra. Toda vez que a perspectiva de queda do preço do petróleo se apresenta eles tratam logo de fechar um pouquinho as torneiras para manter os preços elevados mesmo com a economia mundial crescendo pouco ou não crescendo nada.

    Foi o que ocorreu agora em setembro, quando os preços do petróleo subiram acima dos US$ 90 dólares por barril pela primeira vez em 2023, depois que a Arábia Saudita e a Rússia anunciaram a prorrogação dos cortes voluntários na oferta da commodity até o fim do ano. Segundo informou o jornal Valor (18/9), “A Arábia Saudita, que lidera o cartel expandido da Opep+, a união dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) com aliados, como a Rússia, promoveu um corte adicional de 1 milhão de barris por dia no mercado internacional a partir de julho, uma medida anunciada inicialmente como temporária. Esse corte foi prorrogado até o fim de setembro e agora os meios de comunicação estatais sauditas noticiaram que, segundo o Ministério da Energia, o país manterá a redução de um milhão de barris por dia até o fim de dezembro”.

    Também está pesando para isso o projeto do herdeiro do trono saudita, o príncipe Mohammed bin Salman, governante de fato do país, de transformar o Oriente Médio no que ele chamou de” Nova Europa” em seu discurso de adesão ao grupo do BRICS ampliado, em setembro último. Seu objetivo é modernizar a região e atrair investimentos em outras áreas que não o petróleo, nomeadamente na Arábia Saudita. Para isso precisa de dinheiro. Não há, portanto, nenhum perspectiva de que os preços do petróleo venham a cair nos próximos anos.

    Para países como o Brasil, que consegue produzir petróleo de alta qualidade no pré-sal a um custo de pouco mais de US$ 2,00 o barril, isso até poderia parecer uma boa notícia, mas, de fato, não é, pois como governos anteriores mudaram a estratégia da Petrobrás desativando atividades de refino e concentrando-se principalmente na exploração do petróleo bruto, o Brasil precisa importar diesel e gasolina e outros derivados pagando os preços internacionais.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

    Não há posts para exibir

    Deixe um comentário

    Escreva seu comentário!
    Digite seu nome aqui