Brasil assina 37 tratados com a China e relação entre os dois países muda de patamar

    Um dos eventos mais esperados do ano foi a visita do Presidente Xi Jinping ao Brasil por ocasião da reunião da Cúpula do G20. A China é o principal parceiro comercial do Brasil. Segundo o site da CNN, “Em um intervalo de 20 anos, a corrente do comércio bilateral entre o Brasil e a China passou de US$ 6,6 bilhões em 2003 para US$ 157,5 bilhões, resultado obtido em 2023, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.” Empresas chinesas já investiram no Brasil nos últimos 20 anos mais de US$ 70 bilhões, de acordo com levantamento do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).

    Empresas chinesas investem no Brasil nas mais diversas áreas, com destaque nos últimos anos para os setores de infraestrutura, energia renovável e manufatura, contribuindo de forma importante para a modernização do país e a geração local de empregos. A recente onda de incentivos chineses no Brasil no setor automobilístico, nomeadamente para a produção de carros elétricos e baterias elétricas, coloca o Brasil como um ator importante nessa área no panorama regional e hemisférico, além de precipitar uma onda de anúncios de investimentos dos concorrentes na área.

    Os problemas que as empresas chinesas vêm enfrentando para se expandir globalmente, nomeadamente nos Estados Unidos e na Europa, coloca o Brasil como um destino privilegiado para os investimentos chineses. Como lembrou o ex-Ministro José Dirceu em entrevista recente ao podcast ConversAR, o Brasil é um dos cinco países no mundo que reúnem três importantes condições: mais de dois milhões de quilômetros quadrados, mais de 200 milhões de habitantes e um PIB superior a US$ 2 trilhões. Somos o 5° maior país do mundo em território, o 8° em população e a 9ª maior economia do mundo e isso, obviamente, é levado em conta pelas empresas chinesas ao decidirem onde investir. Além do mais, 2024 marcou os 50 anos de relações diplomáticas entre os dois países, estabelecidas em 1974.

    Um tema vem quem pautando as relações bilaterais entre os dois países é a questão da adesão do Brasil à Iniciativa Cinturão e Rota. Proposto incialmente pelo presidente Xi Jinping, em 2013, para unir 65 países do Sudeste Asiático, Eurásia, Costa Oeste da África e Europa por meio de grandes projetos de infraestrutura terrestre, marítima e infovias, inspirado na antiga “Roda da Seda”, um conjunto de rotas comerciais que uniam a China à Europa e à Asia Menor, que partia de Xi’an, no Oeste da China, e terminava em Veneza, e funcionou entre 130 a.C. e 1453 d.C., o projeto expandiu-se para todo o mundo. Passados dez anos desde sua criação, até o final de junho de 2023, cerca de 150 países e 30 organizações internacionais firmaram mais de 200 documentos de cooperação para a Iniciativa Cinturão e Rota. Na América Latina, até 2023, 21 países da região somaram-se ao megaprojeto chinês.  O Brasil, entretanto, mesmo sendo o principal parceiro da China na região é um ilustre ausente no projeto.

    Na visita que o presidente Lula fez à China, em 2023, sua terceira visita ao país como chefe de estado, havia a expectativa de que o tema da adesão do Brasil ao projeto fosse pelos menos discutido, mas por falta de consenso no governo brasileiro, o assunto ficou fora da pauta oficial da visita. Havia, portanto, a expectativa de que agora, em 2024, por ocasião da visita do Presidente Xi ao Brasil o tema voltasse à baila e finalmente o possível anúncio da adesão do Brasil ao projeto, mas também não ocorreu. Embora não haja explicações oficiais do governo, presume-se que a decisão de novamente adiar a adesão do Brasil tenha a ver com a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos e a tentativa do governo brasileiro de não azedar ainda mais as relações com os Estados Unidos sob a nova gestão republicana.

    Isso não impediu, entretanto, que a visita oficial do Presidente Xi Jinping ao Brasil tenha sido coroada de sucesso e colocado as relações bilaterais entre os dois países em um novo patamar. Por ocasião do encontro entre os dois presidentes, em Brasília, os dois países assinaram 37 atos nas áreas de agricultura, comércio, investimentos, infraestrutura, indústria, energia, mineração, finanças, ciência e tecnologia, comunicações, desenvolvimento sustentável, turismo, esportes, saúde, educação e cultura.

    Como destacou a Agência Gov. “Elevar a Parceria Estratégica Global entre Brasil e China ao patamar de Comunidade de Futuro Compartilhado por um Mundo mais Justo e um Planeta Sustentável, além de alicerçar a cooperação pelos próximos 50 anos em áreas como infraestrutura sustentável, transição energética, inteligência artificial, economia digital, saúde e aeroespacial. Este foi um dos principais desdobramentos dos encontros, acordos e parcerias consolidados a partir da visita de Estado do presidente da República Popular da China, Xi Jinping, ao Brasil.”

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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