No início do século passado um dos setores industriais mais fortes no estado de São Paulo era o da indústria de chapéus e bengalas, cujo centro produtor era a região de Campinas. Os tempos mudaram, senhoras e cavalheiros abandonaram o então elegante costume de usar chapéu e essa indústria praticamente desapareceu. Afora a Prada, não se tem notícia de outra empresa relevante no setor que ainda exista. Algumas décadas depois foi a vez da indústria de filmes para máquinas fotográficas. Quem com mais de quarenta anos não se lembra da Kodak, da Fuji e seus quiosques para revelação de filmes? O advento da digitalização da fotografia baniu essas empresas do mercado, pelo menos como fabricantes de filmes fotográficos e de serviços de revelação de fotografias.
É atribuída a um xeique árabe a frase de que a idade da pedra não acabou por falta de pedra, em referência ao fato de a idade do petróleo também irá acabar um dia. Tudo indica que esse fim está muito longe e é pouco provável que algum habitante do planeta Terra vá testemunhar o enterro da indústria petroleira. Mas esse dia vai chegar, como sugere a busca frenética por fontes alternativas de energia que nos livre do que talvez um dia fique conhecido como a idade do carbono, iniciada com a invenção do ciclo Otto e do ciclo Diesel, por volta de 1860, que deram origem aos hoje onipresentes motores de combustão interna.
A moral da história é que empresas que não se preparam para o futuro estão fadadas, mais dia, menos dia, a desaparecer, seja por causa das inovações tecnológicas, seja por causa das mudanças nos costumes. Quem, hoje em dia, ainda cozinha com banha de porco? A indústria do petróleo é um negócio multibilionário e tem dinheiro para se preparar para o futuro. Não é de estranhar, portanto, que também esteja investindo no desenvolvimento de fontes alternativas de energia.
Como outras empresas petroleiras do mundo, a Petrobrás está entrando no negócio de produção de energia a partir de fontes alternativas ao petróleo, como parte do esforço de descarbonização da matriz energética brasileira. Conforme noticiou o jornal O Estado de S. Paulo (14/9), a Petrobrás protocolou no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (Ibama) pedidos de estudos para a implantação de usinas eólicas offshore em dez áreas da costa brasileira. A empresa deseja utilizar sua experiência na extração de óleo e gás em alto-mar no desenvolvimento desses projetos. O tempo necessário para os projetos entrarem em funcionamento é de cinco até oito anos. A estatal tem protocolado 23 GW (gigawatts) em projetos de geração eólica offshore.
Diferente de iniciativas anteriores da empresa nessa área, que visavam a produção de energia limpa para as atividades da própria empresa no esforço de zerar a emissão de CO2 em seu processo produtivo, a iniciativa atual tem como horizonte a venda de energia no mercado. Ainda na área de energia eólica, a Petrobras fechou parceria com fabricante de motores elétricos WEG, de Santa Catarina, que possui plantas industriais em diversos países, inclusive na China, para apoiar a cadeia produtiva do setor eólico. A parceria tem como objetivo o desenvolvimento de um aerogerador em terra de 7 megawatts (MW).
Será o maior aerogerador produzido no Brasil com capacidade de gerar energia para 16.880 pessoas. O equipamento poderá ser produzido em série em 2025. Trata-se de uma iniciativa importante, dada a dependência de empresas estrangeiras para o fornecimento desse equipamento. Conforme informou o jornal Valor Econômico (17/9), em 2022, a americana GE Renewable Energy suspendeu a produção de novas turbinas eólicas no Brasil, fato que levantou o temor de uma possível escassez de máquinas e aumentos de preços no setor. No início de 2023, a Siemens Gamesa suspendeu temporariamente as operações da fábrica em Camaçari, na Bahia, para ajustar sua estrutura produtiva e atender às demandas atuais do mercado.