O Método e o caminho

    *Anselmo Pessoa Neto

    O presidente Lula está fazendo os mesmos movimentos que fez em seus governos passados. Em seu primeiro governo, ele passou a política econômica para o ministro Antônio Palocci (de boa memória para o capital financeiro) fazer um pouco o que o ministro Fernando Haddad está fazendo agora. A diferença é que o ministro Antônio Palocci, naquele momento, pegou o Brasil numa situação muito melhor. O Brasil vinha da presidência de FHC, que tinha vendido praticamente todas as estatais. Apesar do presidente Lula ter dito que recebeu uma herança maldita, pelo contrário, ele recebeu um Brasil capitalizado. Pôde gastar o que Fernando Henrique Cardoso acumulou com a venda das estatais brasileiras.

    O presidente Lula mandou Fernando Haddad cuidar da política econômica alinhado aos interesses da Faria Lima e terceirizou tudo o mais para a primeira-dama e a sua legião de colaboradores. Coisa que ele também já tinha feito em seus governos anteriores. Não era esse o time nem era essa a primeira-dama nos dois primeiros governos, lógico, mas existiam outras figuras com os mesmos perfis. Figuras que implementavam, mutatis mutandis, as mesmas políticas que, hoje, a primeira-dama tenta implementar. Só não deu certo desta vez porque o ministro Fernando Haddad puxou o freio de mão da economia e a congelou ad aeternum (pelo menos como pretensão) e também porque a política da primeira-dama tem a oposição, na refrega, do bolsonarismo.

    Essa parte da política, a pauta dos costumes, terceirizada para a primeira-dama, antes não enfrentava uma oposição tão determinada. Não existia o Bolsonarismo. Então, a política da primeira-dama não tem como dar certo e a do ministro Fernando Haddad também não. O presidente Lula só poderia resolver a situação do Brasil com dinheiro, com investimentos, com outra política econômica. Com a política de favores, clientelista da primeira-dama, não vai! Um favor para um preto (os pardos estão fora!), um LGBTQIA+, uma mulher, não resolve, não funciona, porque você atinge indivíduos, não atinge a sociedade em geral, os grandes problemas do Brasil.

    O clientelismo é o exato contrário da política universalista, quem leu nos velhos manuais sabe muito bem. Por outro lado, o arcabouço fiscal do ministro Fernando Haddad inviabilizou o Estado brasileiro: dinheiro certo é só para pagar os juros da dívida pública. Para todo o resto, não tem, ou é insuficiente.

    Em suma, o presidente Lula pisou na mesma casca de banana que está acostumado a pisar e resiste a entender a nova realidade. O desenho de governança atual não dará certo tão pouco no próximo futuro de mais dois anos e um pouco mais de governo. Aliás, o futuro é ainda mais tenebroso. A opção seria uma mudança drástica da política econômica do ministro Fernando Haddad (em tudo igual à do ministro Paulo Guedes: desenhadas ambas sob a batuta da Faria Lima).

    Esse governo, sem a pressão das urnas do primeiro ano, teria forças para realizar uma mudança na direção do País? Ou o círculo mágico que cerca o presidente embaralha, propositadamente, a percepção do caminho?

    *Professor titular e ex-pró-reitor de extensão e cultura da Universidade Federal de Goiás (UFG).

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