A chegada, em massa, de montadoras chinesas de veículos elétricos nos últimos dois anos está mudando a face do setor no Brasil, tradicionalmente dominado por empresas norte-americanas e europeias. Dentre as empresas chinesas chegadas recentemente, a que vem chamando mais atenção é a BYD, que está construindo uma grande fábrica na Bahia, no município de Camaçari, região metropolitana de Salvador, na qual deve empregar 3.000 funcionários. Em São Paulo, berço da indústria automobilista nacional, a chegada dos chineses também está mudando a configuração regional do setor, antes concentrado no chamado ABC paulista (Santo André, São Bernardo e São Caetano). Cidades como Jacareí e mais recentemente Iracemápolis, no interior do estado, hoje abrigam grandes montadoras chinesas.
De acordo com o jornal “O Estado de S.Paulo” (27/01/2025), “Além da fábrica da BYD em Camaçari, o Brasil também receberá uma planta da GWM. A montadora está adaptando uma antiga fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (a 165 quilômetros de São Paulo) para produzir carros eletrificados. A GAC, quinta maior montadora chinesa, afirma que investirá US$ 1 bilhão até 2029 para produzir no Brasil. Ela não revela quando iniciará a fabricação, mas, segundo fontes do setor automotivo, tem entre suas opções a compra da planta da Toyota em Indaiatuba (SP), que será desativada até 2026. A Neta Auto também estaria de olho na fábrica da japonesa, e a Omoda/Jaecoo (O&J) negocia um local para montagem de CKDs (conjunto de peças que vem pronto da China e são agregados aqui, com pouco ou nada de componente local) em 2025.”
Conforme é possível ler no próprio site da BYD, “A BYD Auto Brasil encerrou 2024 em alta, atingindo números recordes de vendas e reafirmando sua posição de destaque no mercado de veículos eletrificados. Com 10.091 carros emplacados apenas no mês de dezembro, a companhia quebrou seu próprio recorde de vendas num único mês e confirmou mais uma vez seu crescimento sólido no mercado brasileiro. O resultado garantiu a oitava posição no ranking geral de vendas em dezembro, um feito inédito para uma montadora que chegou há apenas 3 anos no Brasil e já está à frente de montadoras que possuem décadas de atuação no país. Considerando apenas as vendas de varejo, a BYD sobe para a quinta posição geral em mais um passo para estar nas primeiras posições do ranking já nos próximos anos. Com 76.713 veículos emplacados ao longo do ano, a empresa registrou um crescimento de 327,68% em relação aos 17.937 emplacamentos acumulados em 2023.”
Superprotegidas da concorrência externa (segundo estudo do IPEA, a tarifa efetiva de automóveis, caminhonetas e utilitários importados, que leva em conta além da tarifa sobre o produto final, as tarifas aplicadas aos insumos importados e, portanto define com mais precisão o grau efetivo de proteção, gira em torno de 200%), as montadoras tradicionais de automóveis se incomodam com a chegada de novos correntes com preços mais baixos, que podem corroer suas margens de lucro e reagem a isso pedindo mais proteção do governo.
Conforme noticiou o Estadão (27/01/2025), “montadoras mais antigas com fábricas no Brasil vão entrar, nos próximos dias, com pedido de averiguação de prática de dumping contra empresas chinesas que estão comercializando veículos importados no País. O principal alvo são os automóveis, mas serão incluídas também marcas que vendem caminhões, ônibus e máquinas agrícolas e rodoviárias.”. Se o processo for conduzido sem distorções, o que no caso da China é sempre possível, pois, por não ser considerada uma economia de mercado (embora o Brasil tenha prometido reconhecer a China como economia de mercado há mais de 20 anos sem contudo efetivar o reconhecimento até hoje), as regras para verificação de dumping são diferentes do que as utilizadas normalmente, é praticamente impossível encontrar margem de dumping, uma vez que qualquer produto chinês vendido no Brasil custa três vezes mais do que o mesmo carro na China.
Essa revoada de montadoras chinesas para o Brasil está transformando o país no maior polo de produção de carros elétricos chineses, fora da China. Isso se deve em grande medida às crescentes restrições que as empresas automobilísticas chinesas estão encontrando nos Estados Unidos e na Europa, o que as tem levado a escolher o Brasil como porta de entrada para a ocidentalização de seus veículos. Além de ser um mercado gigante para venda de automóveis, pode também ser um polo de exportação para atender toda a América do Sul, um mercado de mais de 400 milhões de pessoas, maior do que os 27 países da União Europeia.