Lançado em 2013, pelo presidente Xi Jinping, com o objetivo de apoiar a interconexão entre os países participantes da iniciativa, por meio de projetos de investimento em infraestrutura (física e digital), a Iniciativa Cinturão e Rota chega ao seu décimo ano de funcionamento com um saldo positivo de realizações, nomeadamente no Sudeste da Ásia, Eurásia, África e América Latina. A Iniciativa Cinturão e Rota apresenta hoje uma carteira de financiamento de projetos de infraestrutura maior que a do Banco Mundial e outros organismos multilaterais de crédito do Ocidente. Graças à Iniciativa Cinturão e Rota, não só os países do entorno imediato da China estão se beneficiando da integração às cadeias globais de suprimento centradas na China, mas também os países da África e América Latina. Graças à iniciativa, estão preenchendo graves lacunas de investimentos em infraestrutura de transporte, podendo, assim, alavancar seu desenvolvimento local, ligando-se de forma mais eficiente às cadeias globais de valor. De acordo com o Instituto de transparência de Ajuda, Tecnologia da Informação e Geocodificação (AidData), a China financiou, nos últimos 18 anos, 13.427 projetos no valor total de US$ 843 bilhões em 165 países. A Iniciativa Cinturão e Rota é hoje a maior iniciativa coordenada de investimentos em infraestrutura na história mundial visando promover a conectividade global.
A conectividade é a força mais revolucionária do século XXI. Enquanto no Ocidente, a grande preocupação das grandes potências, nomeadamente dos Estados Unidos, é com a segurança, desencadeando, assim, uma nova corrida armamentista mundial, a China apostou na interconectividade como forma de alavancar o desenvolvimento mundial e promover a paz e a cooperação entre os povos. Isso coloca a China em posição moralmente superior à das grandes potências do Ocidente. Como afirmou o escritor indiano-americano Parag Khanna, em livro de 2016 (Connectography. Mapping the Global Network Revolution), “a busca incessante desta estratégia por parte da China elevou a infraestrutura ao estatuto de um bem global”. Conforme afirma Khanna, “um país não pode mudar onde está, mas a conectividade oferece uma alternativa ao destino da geografia. As cadeias de abastecimento são, portanto, uma forma de salvação para os milhares de milhões mais pobres dos países em desenvolvimento, cujos governos agora se esforçam ao máximo para atraí-las”.
Uma das maiores tragédias humanitárias de nosso tempo são as ondas de migração em massa de países pobres assolados pelas guerras e pela estagnação econômica. Para remediar essa trágica situação é necessário integrar esses países às cadeias globais de suprimento, gerando oportunidades locais de trabalho e renda. Isso só pode ser feito se houver investimentos em infraestrutura que permitam, sobretudo aos países mais pobres, beneficiarem-se do processo de globalização da economia mundial. De acordo com o Banco Mundial a falta de infraestrutura é o principal empecilho para se alcançar os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” da ONU relacionados à eliminação da pobreza. É exatamente nisso que a China tem investido por meio da Iniciativa Cinturão e Rota nos mais de 140 países que hoje fazem parte do projeto.
Enquanto os países ricos do Ocidente operam para trazer os investimentos externos de suas empresas de volta para seus próprios territórios, falam em morte da globalização e promovem desconexão da economia global por meio de medidas protecionistas, a China, com iniciativas como esta, trabalha no sentido contrário, promovendo a conectividade, a abertura e a integração mundial, criando, assim, uma nova plataforma para os comércio e investimentos internacionais. Desde a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1994, nenhuma outra iniciativa contribuiu tanto para promover o multilateralismo, a abertura e integração mundial, sobretudo dos países pobres em desenvolvimento.
Os números falam por si mesmos. A China é hoje uma importante força-motriz para o desenvolvimento econômico da África. O comércio bilateral China-África que, no ano 2000 era de cerca de US$ 10 bilhões, alcançou, em 2019, US$ 208,7 bilhões. Empresas chinesas estão presentes em 52 países africanos, o que representa 86,7% do total. Cerca de 3.600 empresas chinesas já se estabeleceram na África, atuando em diferentes setores, como construção, mineração, manufatura, telecomunicações e finanças, entre outros, criando centenas de milhares de empregos. Na última década a China foi responsável pela construção de 10 mil quilômetros de rodovias, 6 mil quilômetros de ferrovias, 20 portos, 30 aeroportos e 80 centrais elétricas em continente africano. Em 2019, 30% de todos os projetos de infraestrutura na África e 80% dos projetos de infraestrutura de comunicação eram financiados pela China. O volume de comércio da China com a África é, hoje, o dobro do comércio da África com os Estados Unidos e praticamente o mesmo que o comércio da África com todos os países da União Europeia.
Na América Latina, os números não são menos impressionantes. Em 2022, a América do Sul atraiu 17,4% do financiamento total da Iniciativa Cinturão para a construção de infraestrutura, ultrapassando em muito o máximo anterior de 6,9% em 2017. Um total de 21 países da América Latina, incluindo Chile e Argentina, assinaram acordos de cooperação com a China no âmbito da Iniciativa Cinturão e Rota. A América Latina é o segundo maior destino dos investimentos externos da China no mundo. Até o final de 2021, o estoque de investimentos chineses na América Latina ultrapassava US$ 450 bilhões, respondendo por 19% do total do investimento externo da China. Até julho de 2021, o valor acumulado de contratos de construção de infraestrutura por empresas chinesas na América Latina era superior a US$ 220 bilhões e o faturamento total ultrapassou US$ 140 bilhões. Mais de 2.700 empresas com capital chinês operam na América Latina.