A tomada da cidade de Avdiivka pelos russos, em fevereiro, foi mais um revés para os ucranianos. Segundo os analistas, trata-se do mais duro golpe às forças ucranianas desde a perda de Bakhmut para as forças russas em maio passado. Trata-se, contudo, de uma conquista ainda mais importante, primeiro porque era mais bem defendida e, segundo, porque Avdiivka tem um papel mais estratégico na guerra. O risco para os ucranianos, dizem os analistas, é que a menos que as forças ucranianas possam agora garantir rapidamente novas linhas defensivas, o que aparentemente não há, os russos avançarão e capturarão ainda mais território.
Segundo a revista The Economist (17/02) “Avdiivka ficava em uma saliência cercada em três lados pelas forças russas. Como eles e as forças rebeldes que apoiavam não conseguiram tomá-la em 2014, a cidade de Donetsk, que capturaram, esteve sempre vulnerável aos bombardeamentos ucranianos. É por isso que a Rússia a tem atacado desde os primeiros dias da guerra. Para os ucranianos, as consequências da queda de Avdiivka são tanto militares como políticas. Desde o fracasso da contraofensiva do verão passado, o General Syrsky tem falado em mudar as forças armadas para uma postura de defesa, um sinal claro de que a contraofensiva está verdadeiramente terminada e a Ucrânia está a tentar manter o que ainda tem”.
Segundo o site russo RT (25/2), há um racha entre exército e governo na Ucrânia. De acordo com o site russo, “o presidente da Ucrânia, Volodymir Zelensky, demitiu o general Valery Zaluzhny, o ex-comandante-em-chefe ucraniano que supervisionou a fracassada contraofensiva da Ucrânia, e vários outros comandantes de alto escalão no início deste mês. O presidente ucraniano descreveu a decisão como “um reboot”, observando que “algumas coisas não estavam mudando no período recente de tempo”. Alguns relatos da mídia, no entanto, sugeriram que Zelensky queria se livrar de Zaluzhny como um potencial rival político que era popular entre as bases. Zaluzhny foi substituído pelo general Aleksandr Syrsky, a quem o site Politico descreveu como um “carniceiro” impopular entre as tropas que supostamente se ressentiam de sua disposição de jogá-las em “ataques infrutíferos”. Mesmo antes da retirada caótica da Ucrânia da estratégica cidade de Avdiivka, em Donbass, Syrsky admitiu que Kiev estava em uma situação “difícil” na linha de frente. Ele também disse que a Ucrânia agora “fez a transição” de ações ofensivas para defesa estratégica”.
Ainda segundo o RT (25/2), “Washington e seus aliados da OTAN bloquearam as negociações de paz e prolongaram o conflito Rússia-Ucrânia ao rejeitar a diplomacia, levando a mais derramamento de sangue e aumentando o risco de uma guerra em grande escala entre superpotências com armas nucleares, de acordo com um artigo de opinião publicado pelo site norte-americano Salon”.
Segundo o mencionado artigo, assinado por Meda Benjamin e Nicholas J. S. Davies, “Embora sejam os ucranianos e os russos que lutam e morrem nesta guerra de desgaste, com mais de meio milhão de vítimas, são os Estados Unidos, juntamente com alguns dos seus aliados ocidentais, que têm impedido as negociações de paz. Isto foi verdade para as conversações entre a Rússia e a Ucrânia que tiveram lugar em março de 2022, um mês após a invasão russa, e é verdade para as conversações que a Rússia tentou iniciar com os EUA recentemente, em janeiro de 2024.”
De acordo com o artigo, o acordo de paz preliminar negociado pelas autoridades russas e ucranianas em março de 2022 deveria ter encerrado o conflito ao declarar Kiev militarmente neutra, como a Áustria ou a Suíça e as disputas territoriais sobre a Crimeia e as repúblicas separatistas de Donbass, que votaram para se tornarem parte da Rússia, teriam sido decididas pelo povo dessas regiões em novas eleições.
Mas as autoridades dos EUA e do Reino Unido intervieram para persuadir o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, a travar um conflito prolongado com a Rússia para retomar os territórios perdidos de Kiev, afirmou o artigo de opinião. “Os líderes dos EUA e da Grã-Bretanha nunca admitiram ao seu próprio povo o que fizeram; nem tentaram explicar por que fizeram isso.”
Os autores do artigo argumentaram que a sabotagem das negociações de paz pelos EUA seguiu um padrão previsível na política externa de Washington: mentir sobre decisões em situações de crise e passar para o próximo ponto crítico – neste caso, a guerra Israel-Hamas – antes que essas medidas fossem amplamente conhecidas, altura em que seriam irreversíveis. Os EUA e outros membros importantes da Otan foram “encorajados, ou poderíamos dizer iludidos, por sucessos limitados em diferentes momentos, a prolongar e escalar continuamente a guerra e a rejeitar a diplomacia, apesar dos custos humanos cada vez maiores e terríveis para o povo da Ucrânia.”