Fernanda Nunes / Agência Estado
Cinco ex-presidentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) se reuniram para divulgar uma carta de protesto à gestão do órgão
no atual governo, principalmente, no que diz respeito à realização do
Censo Demográfico 2020. A carta é assinada por líderes do instituto em
diferentes governos – Eurico Borba (presidente em 1992 e 1993), Eduardo
Nunes (de 2003 a 2011), Wasmália Bivar (de 2011 a 2016), Paulo Rabello
de Castro (em 2016 e 2017) e Roberto Olinto (de 2017 a 2019).
Eles acusam a atual direção do instituto de improvisação e alertam para o
risco de o próximo Censo deixar de fora 10 milhões de domicílios. “A
atitude do atual governo, secundada por seu ministro da Economia e não
refreada pela atual presidente do IBGE, tem sido de dúvida e de negação à
capacidade de concepção e realização do Censo 2020 por este que é um
dos órgãos de mais irretocável reputação e confiabilidade do Estado
brasileiro”, traz a carta, endereçada às lideranças do Congresso,
municipais e empresariais.
O corte no questionário da pesquisa foi anunciado pela presidente do
IBGE, Susana Cordeiro Guerra, no fim de maio. Além de reduzir o número
de perguntas, o governo diminuiu o orçamento do Censo, de R$ 3,1 bilhões
para R$ 2,3 bilhões. Com as medidas, alguns funcionários entregaram
seus cargos.
Na carta divulgada nesta segunda-feira, 15, os ex-presidentes pedem a
mobilização da sociedade para evitar as mudanças no Censo. Eles destacam
que prefeitos, vereadores e deputados recorrem ao IBGE com frequência
pedindo a atualização dos dados da população dos seus municípios. Essas
informações são consideradas no cálculo de repartição de impostos no
Brasil.
Presente à entrevista coletiva de lançamento da carta, Olinto destacou
que já existe uma proposta de revisão do Censo elaborada durante três
anos por técnicos do IBGE. Já Bivar criticou o fato de uma única pessoa,
a atual presidente do instituto, propor individualmente um questionário
sem ouvir os funcionários técnicos. “Nos parece improvisação. Isso
jamais aconteceu”, acrescentou. Para Rabello de Castro, a intenção do
atual governo é “ideológica, para acabar com a inteligência brasileira”.
Olinto acrescentou ainda que a condução das pesquisas pela atual direção
tem desqualificado o instituto de estatística. “A Pnad Contínua virou
uma lixeira das pesquisas, não tem sustentação para tanto. Não é a mais
adequada, por exemplo, para discutir o autismo”, afirmou, em resposta ao
posicionamento de Susana Guerra de que utilizará a pesquisa para
levantar informações sobre o autismo.
Segundo os ex-presidentes, o orçamento do Censo 2020 é insuficiente.
Eles avaliam que o Censo demográfico está sendo resumido a uma contagem
da população. Os afetados, de acordo com o grupo, serão os ministérios
que devem ser impossibilitados de planejar o futuro. “A sociedade
brasileira não pode abrir mão de se conhecer. O IBGE não pode ser
responsabilizado por uma política obscura. Todos nós lidamos com o
problema de falta e recurso. Não é um problema novo. Não dizemos amém a
quem nos pôs no cargo. Servimos ao público e não a quem está no poder”,
afirmou Nunes.