Europeus desperdiçam oportunidade na China

    (Foto: Portal Vermelho)

    Pressionada pelos Estados Unidos, a União Europeia vem tomando uma série de medidas contra a China que acabarão por trazer mais danos do que benefícios para os europeus. De certa forma, o que os europeus estão fazendo em relação à China lembra um pouco sua atitude em relação à guerra na Ucrânia. No caso da guerra na Ucrânia, pressionada pelos Estados Unidos, a União Europeia cortou laços com a Rússia, que era seu principal fornecedor de energia barata. O resultado foi o aumento brutal do custo da energia e a maior dependência em relação ao gás importado dos Estados Unidos, muito mais caro, comprometendo ainda mais a competitividade de sua cambaleante economia e o bem-estar dos cidadãos europeus. Além disso, ao comprar uma briga desnecessária com um vizinho poderoso, no caso, a Rússia, colocou-se como alvo, enquanto os Estados Unidos, protegidos por dois oceanos, vê de camarote o continente europeu tornar-se mais uma vez palco de um grande conflito.

    No caso da China, o padrão se repete. Não levando em conta que o desacoplamento entre Estados Unidos e China poderia representar uma oportunidade para suas empresas ocuparem o espaço vazio que está sendo deixado pelas empresas norte-americanas na China, os europeus preferem atuar como linha auxiliar dos Estados Unidos.

    Tomemos o exemplo dos carros elétricos. Ao invés de negociar com os chineses algum tipo de acordo que seja vantajoso para os dois lados, a União Europeia está prestes a aprovar uma nova tarifa para dificultar a entrada dos carros elétricos chineses no mercado europeu. Trata-se, além disso, de uma atitude incoerente, pois, se de um lado a UE vem adotando normas ambientais cada vez mais restritivas, por outro lado fecha as portas para os carros elétricos chineses que, por serem baratos, poderiam atender uma camada de consumidores não alcançada pelos seus fabricantes locais de veículos elétricos, muito mais caros.

    Conforme informou o Financial Times (20/9), “As montadoras chinesas alertaram que reduzirão o investimento na UE se ela impuser tarifas sobre as importações de veículos elétricos no próximo mês. “Certas empresas chinesas observaram que, se a UE prosseguir com a imposição de tarifas adicionais, seus planos de investimento existentes terão que ser reavaliados, pois sua confiança no ambiente de investimento da UE diminuirá”, disse a Câmara de Comércio da China à UE após uma reunião com o ministro do Comércio de Pequim, Wang Wentao, em Bruxelas. Wang manteve conversas de última hora na quinta-feira com o comissário europeu de comércio, Valdis Dombrovskis, em uma tentativa de suspender as tarifas. Eles disseram que realizarão mais discussões sobre o assunto”. De acordo com o jornal, “Os veículos elétricos chineses já estão sujeitos a uma tarifa de 10%, mas os Estados-membros da UE votarão em breve se aprovam as tarifas adicionais, que variam de até 35,3%, por cinco anos.”

    Caso a UE leve à frente o aumento de tarifas, países com fortes vínculos com o mercado automobilístico chinês, como Alemanha, Hungria e Suécia podem ser prejudicados. Empresas automobilísticas europeias com forte presença no mercado chinês, como a Mercedes-Benz e a Volkswagen, que obtém na China metade de seu faturamento global, terão prejuízos, pois além de atender o mercado chinês, abastecem o mercado mundial a partir de suas fábricas na China.

    A União Europeia está tomando em relação à China a mesma atitude obtusa dos Estados Unidos. Ao invés de encarar a competição chinesa como um desafio para aumentar suas vantagens competitivas, seja de qualidade, seja de custo, prefere adotar uma atitude defensiva e protecionista para impedir que os concorrentes chineses tomem o mercado de suas envelhecidas empresas locais.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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