O governo Trump chega aos 100 de governo sem ter conseguido cumprir a promessa de que acabaria com a guerra na Ucrânia em um dia. A estratégia de Trump de negociar um acordo de paz diretamente com a Rússia deixando a Ucrânia fora da discussão não funcionou. Nem os russos aceitam encerrar o conflito sem a garantia de que ficarão com a posse das áreas conquistadas ao longo de quase três anos de conflito mais a Criméia ocupada em 2014 e nem os ucranianos aceitam o fim do conflito sem a garantia de manutenção da sua integridade territorial inclusive a devolução da Criméia.
Diante da dificuldade de costurar um acordo que permita o fim do conflito, Trump vinha dando sinais, nas últimas semanas, de que os Estados Unidos poderiam se afastar das negociações. Um fato novo, entretanto, parece ter colocado os Estados Unidos de volta ao jogo. Segundo noticiou a imprensa, “Após meses de negociações tensas, os EUA e a Ucrânia assinaram um acordo que deverá dar a Washington acesso aos minerais essenciais e a outros recursos naturais do país, um acordo que Kiev espera que garanta o apoio de longo prazo para sua defesa contra a Rússia” (Estadão, 01/05/2024).
A Ucrânia possui depósitos de 22 dos 34 minerais identificados pela União Europeia como críticos. O Fórum Econômico Mundial afirmou que a Ucrânia também é um potencial fornecedor-chave de lítio, berílio, manganês, gálio, zircônio, grafite, apatita, fluorita e níquel. O Serviço Geológico do Estado disse que a Ucrânia possui uma das maiores reservas confirmadas de lítio da Europa, estimadas em 500 mil toneladas. Esse elemento químico é vital para baterias, cerâmicas e vidro. (Estadão,01/5/2025).
O acordo assinado é diferente da proposta apresentada incialmente pelos Estados Unidos e recursada pela Ucrânia que daria aos norte-americanos o direito ao controle de recursos minerais da Ucrânia em um montante equivalente a US$ 500 bilhões como forma de ressarcimento da ajuda militar recebida os EUA. Segundo a revista The Economist (29/4/2025) “O acordo, que, ao contrário de rascunhos anteriores, crucialmente não exige que a Ucrânia use suas receitas de minerais para pagar o dinheiro da assistência militar americana no passado, erroneamente calculado em US$ 350 bilhões por Trump, está sendo visto como uma forma de dar aos Estados Unidos uma participação na manutenção da segurança futura da Ucrânia após o fim dos conflitos. “Este acordo sinaliza claramente à Rússia que o governo Trump está comprometido com um processo de paz centrado em uma Ucrânia livre, soberana e próspera a longo prazo”, disse o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, em um comunicado ao assinar o acordo para os Estados Unidos. Os ucranianos esperavam mais, na forma de garantias detalhadas de segurança; estas não foram fornecidas, apesar de vários meses de negociação.”
Ainda segundo a revista, “Os detalhes completos do novo acordo ainda não foram publicados, mas o novo fundo de investimento será dividido em partes iguais entre os Estados Unidos e a Ucrânia, e financiado pelas receitas de novas licenças para exploração e extração mineral. O fundo investirá na extração de minerais essenciais, incluindo as terras raras, que tanto preocupam Trump, bem como nos setores de petróleo e gás. Todos os lucros serão reinvestidos na Ucrânia durante a primeira década.”
Sem o apoio militar dos EUA e seus aliados europeus da Otan dificilmente a Ucrânia seria capaz de resistir aos ataques da Rússia por muito tempo devido à enorme desproporção entre os recursos humanos e materiais que os dois lados podem mobilizar para sustentar o conflito. Depois de três anos de guerra sem que nenhum avanço significativo de lado a lado ocorresse, a disposição dos EUA de continuar a oferecer apoio militar e financeiro aos ucranianos arrefeceu em decorrência das críticas, sobretudo dos Republicanos, aos gastos para sustentar uma guerra que não estava indo a lugar nenhum. Com a posse de Donald Trump e sua visível má vontade em relação ao presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e suas boas relações com o presidente russo Vladimir Putin tudo indicava que a balança estava pesando definitivamente a favor dos russos. A assinatura deste acordo dando acesso aos norte-americanos aos recursos naturais da Ucrânia pode novamente alterar o equilíbrio a favor dos ucranianos, mas o desfecho é incerto. Para os EUA terem acesso a esses recursos a guerra precisa terminar, o que pode ser um incentivo para Trump forçar uma solução. A questão, entretanto, é que as condições que estão sendo impostas pelos russos para encerrar o conflito são, aparentemente, inaceitáveis para a Ucrânia.