Sob a presidência do Brasil, ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em meados de novembro, o encontro do G20. Na abertura do evento o presidente Lula lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que obteve a adesão de 82 países. Tendo acontecido poucos dias depois da eleição nos Estados Unidos, pairou sobre o evento a sombra de Donald Trump, notório opositor do multilateralismo e da cooperação internacional em temas de interesse comum. Embora ausente, foi “representado” por Javier Milei, presidente da Argentina, que tentou tumultuar o encontro atacando o multilateralismo. Apesar disso, a reunião foi bem-sucedida e prestigiada pelos principais chefes de Estado, inclusive o presidente da China, que aproveitou para fazer uma visita oficial ao Brasil.
O evento pode ser considerado um sucesso da diplomacia brasileira. Conforme destacou o site G20.org, “Inclusão social, combate à fome e à pobreza; apoio à tributação dos bilionários; medidas pela transição energética; reforma da governança global e celeridade nas ações pelo clima e apoio à COP 30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climática que acontece em 2025 em Belém do Pará, no Brasil). Esses são os compromissos centrais da histórica Declaração de Líderes do G20 do Rio de Janeiro, divulgada nesta segunda-feira, 18/11. O documento obteve consenso de todos os países-membros, reforça o papel do grupo por abordar os desafios globais e promoverem o crescimento forte, sustentável e inclusivo. Os líderes reafirmam o compromisso com temas cruciais para o futuro global, enfatizam a importância de ações coordenadas para enfrentar as mudanças climáticas, promover transições energéticas justas e preservar o meio ambiente. Também destacam a necessidade de uma reforma abrangente na governança global, com o fortalecimento das Nações Unidas, a modernização da arquitetura financeira internacional, a promoção de um sistema multilateral de comércio inclusivo e o desenvolvimento ético da inteligência artificial”.
A força do grupo pode ser percebida, por exemplo, no fato de o presidente da Argentina, Javier Milei, que na véspera criticara o multilateralismo e a intromissão do Estado, afirmando que só o capitalismo tira as pessoas da pobreza, ter se visto praticamente obrigado a aderir, no último momento, à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, proposta pelo Brasil e que já havia obtido a adesão de 82 países.
Estabelecido em seu formato atual em 2008, o G20 se consolidou como o principal fórum global para diálogo e coordenação em questões econômicas, sociais, de desenvolvimento e cooperação internacional. O G20 surgiu porque o G7 se mostrou incapaz de propor soluções para os sérios problemas que o mundo vem enfrentando, principalmente após a crise financeira de 2008 e, mais recentemente, a pandemia da COVID-19. Sem a participação efetiva dos países em desenvolvimento, os sérios problemas que o mundo enfrenta hoje não podem ser resolvidos. O G20 representa esse espaço de poder em que os países em desenvolvimento se sentam à mesa com os países ricos em pé de igualdade para enfrentar esses problemas de uma nova perspectiva.
O tempo em que os países ricos decidiam sozinhos como enfrentar as questões globais a partir de sua perspectiva e interesses e só comunicavam suas decisões aos demais países não existe mais. Os países em desenvolvimento têm uma participação maior no PIB global do que os países da OCDE. O BRICS ampliado tem um PIB maior do que os países do G7 e tem mais de 40 países na fila de espera para aderir ao grupo. Os países ricos não podem mais decidir como lidar com os problemas globais com base apenas em seus interesses e impor suas decisões aos outros. A crescente influência dos países do Sul Global no G20 cria um constrangimento moral sobre os países ricos, obrigando-os a aceitarem, pelo menos formalmente, suas responsabilidades no enfrentamento dos problemas globais e considerarem as opiniões e interesses dos países em desenvolvimento ao lidar com eles. Talvez não seja muito, mas representa uma mudança importante em relação ao período em que eles simplesmente desconheciam a sua existência.