A diretora-executiva do FMI, Kristalina Georgieva, afirmou no programa “Sunday Morning”, da TV americana CBS, no início de janeiro, que o novo ano será “mais difícil do que ano que estamos deixando para trás”. A razão para tamanho pessimismo é que, segundo ela, os principais motores do crescimento mundial – EUA, Europa e China – passam por um enfraquecimento. Muito desse pessimismo se deve à avaliação de que na China uma “explosão incontrolável” dos números de novos casos de covid previstos para os próximos meses tende a prejudicar ainda mais sua economia neste ano e a atravancar o crescimento tanto regional quanto global.
Segundo publicou o Financial Times (10/01), a expectativa do Banco Mundial é de que a economia global cresça só 1,7% neste ano, uma queda drástica em relação aos 2,9% estimados para 2022. Os dados estão no relatório semestral Global Economic Prospects, publicado em 09/01 pelo FMI. O Banco Mundial reduziu suas previsões de crescimento para 95% dos países ricos e mais de 70% dos mercados emergentes e economias em desenvolvimento, em comparação com seis meses atrás. As economias avançadas crescerão apenas 0,5% neste ano, abaixo dos 2,5% estimados antes, segundo o banco. No resto do mundo, a expectativa é de que o crescimento fique inalterado, em 3,4%. No entanto, à exceção da China, os países em desenvolvimento devem crescer 2,7% no ano, uma queda em relação aos 3,8% previstos para 2022. O relatório atribuiu as revisões para baixo de suas projeções à alta da inflação, às elevadas taxas de juro, à redução dos investimentos e aos transtornos causados pela invasão da Ucrânia pela Rússia.
No que diz respeito à China, as avaliações são contraditórias, sobretudo no que diz respeito à mudança na política de combate à Covid-19. Em um primeiro momento, um grande crescimento do número de casos poderia impactar negativamente a economia. Num segundo momento, entretanto, essa mudança de política no combate à doença poderá gerar um grande impulso no crescimento econômico chinês com efeitos positivos em todo o mundo.
Segundo a revista The Economist, “Primeiro, porém, haverá horror. Dentro da China, o vírus está em alta. Dezenas de milhões de pessoas a contraem todos os dias. Os hospitais estão sobrecarregados. Embora a política de covid-zero tenha salvado muitas vidas quando foi introduzida (com grande custo para as liberdades individuais), o governo não se preparou adequadamente para seu relaxamento, armazenando medicamentos, vacinando mais idosos e adotando protocolos robustos para decidir quais pacientes tratar. Nossa modelagem sugere que, se o vírus se espalhar sem controle, cerca de 1,5 milhão de chineses morrerão nos próximos meses”. A mesma revista considera, entretanto, que “à medida que o ano avança e o pior da onda de covid passa, muitos doentes voltarão ao trabalho. Compradores e viajantes gastarão mais livremente. Alguns economistas avaliam que o PIB nos primeiros três meses de 2024 pode ser um décimo maior do que no conturbado primeiro trimestre de 2023. Uma recuperação tão acentuada em uma economia tão grande significa que a China sozinha poderia impulsionar grande parte do crescimento global durante o período”.