Economia dos Estados Unidos: pouso suave ou pouso nenhum?

    Até pouco tempo a discussão era se a economia americana iria experimentar uma queda abrupta (hard landing) ou um pouso suave (soft landing). Dados mais recentes mudaram os rumos da conversa: agora a questão é se haverá mesmo o tal pouso suave ou pouso nenhum. A economia americana, apesar dos aumentos sucessivos das taxas de juros, não dá mostras de arrefecimento. Ao contrário, tanto os indicadores de encomendas e vendas como de emprego, mostram que a economia está crescendo a uma taxa anualizada próxima dos 6%, poucas vezes alcançada neste século.

    Segundo a revista inglesa The Economist, “As novas encomendas para empresas industriais atingiram o maior nível em nove meses em julho. As vendas no varejo também foram animadas no mês passado, com os consumidores esbanjando em tudo, desde refeições em restaurantes até compras on-line e roupas e artigos esportivos. A indústria da construção também tem estado dinâmica, apoiada por uma recuperação na construção residencial. Na base de tudo isto está o mercado de trabalho, que se manteve aquecido, tornando relativamente fácil para as pessoas encontrarem colocações com salários decentes. O número total de empregos nos Estados Unidos tem crescido mais rapidamente do que a população em idade ativa, ajudando a manter a taxa de desemprego em 3,5%, pouco antes do nível mais baixo das últimas cinco décadas”.

    Mas como ensina uma conhecida fábula chinesa, assim como um acontecimento ruim pode trazer uma coisa boa, o contrário também pode ocorrer. Ou seja, se o aquecimento atual da economia resultar em novas pressões inflacionários, o Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, pode ser tentado a subir novamente os juros e jogar água na fervura. Além disso, o fato de os rendimentos dos títulos do tesouro americano de longo prazo terem alcançado o nível mais alto nos últimos 16 anos já levantou a discussão em Wall Street se a taxa neutra de curto prazo desses mesmos títulos – onde o Fed estabeleceria taxas para não sufocar nem estimular o crescimento – não teria aumentado, o que, na visão dos banqueiros, obrigaria o FED a manter as taxas de juros elevadas por mais tempo.

    Os juros altos significam custo de financiamento mais elevado, o que, por sua vez, já vem se traduzindo em aumento da inadimplência em cartões de crédito e em empréstimos para compra de automóveis. Os juros mais altos também estão afetando o mercado imobiliário: as taxas de hipotecas já atingiram 7,5% ao ano, valor que já é o dobro de dois anos atrás. Num primeiro, momento, paradoxalmente, essas taxas mais altas de hipotecas estão estimulando a construção de imóveis novos, uma vez que o mercado de imóveis usados congelou, pois os proprietários que compraram suas casas em anos passados com um juro de 3% ou 4% não querem vender seus imóveis para comprar outro com financiamento a taxas de 7,5%, e estão adiando seus planos de mudança ou troca de imóvel, mas taxas de financiamento mais altas acabam ao fim sempre afetando negativamente o mercado imobiliário como um todo.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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