Economia da Rússia tem desempenho excepcional

    Bem ao contrário do que previam as potências ocidentais quando impuseram uma série de sanções e embargos à Rússia por causa da guerra na Ucrânia, apesar da guerra e em grande medida por causa dela, a economia russa está tendo um desempenho excepcional, de dar inveja aos países europeus.

    Matéria do jornal Washington Post (27/10) informa que “Em vez de afundar, como havia sido amplamente previsto com o regime de sanções ocidentais após a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em 2022, a economia russa está esquentando e correndo o risco de superaquecer.

    Os gastos militares maciços, incluindo altos pagamentos aos soldados, alimentaram o crescimento econômico, bem como os elevados salários e a inflação, já que as empresas são forçadas a igualar os salários militares para atrair trabalhadores. A Rússia pode se dar ao luxo de financiar sua guerra na Ucrânia por mais alguns anos, de acordo com economistas, por causa da enorme receita do petróleo e das falhas nas sanções ocidentais, particularmente o teto do preço do petróleo estabelecido pelo Grupo dos Sete, que não conseguiu reduzir a receita do petróleo da Rússia. A economia está superaquecendo em parte por causa da necessidade do presidente Vladimir Putin de substituir os 20.000 soldados mortos ou feridos mensalmente, de acordo com perdas relatadas pelo Instituto para o Estudo da Guerra em junho. Os governadores regionais russos estão pagando bônus de inscrição inéditos para atrair soldados, com Belgorod recentemente quebrando o recorde com um bônus de US$ 31.200. O resultado é quase pleno emprego na Rússia e salários disparados. A força de trabalho e a capacidade de produção da economia estavam “quase esgotadas”, alertou a governadora do Banco Central, Elvira Nabiullina, que fez mais do que  qualquer outra pessoa no governo russo para sustentar a guerra por meio de sua administração da economia, em julho.”

    Ainda segundo a matéria, “As empresas privadas mal conseguem competir com os altos salários militares. Uma pesquisa da União Russa de Industriais e Empresários neste mês descobriu que 82,8% das empresas estavam tendo dificuldades para atrair trabalhadores. O desemprego caiu para 2,4% em junho, de acordo com a Rosstat, a agência estatal de estatística. (…) Os salários reais da Rússia cresceram 12,9% ano a ano durante os primeiros seis meses de 2024, embora analistas independentes tenham questionado seus números. A renda dos trabalhadores mais pobres cresceu mais rápido, aumentando 67%, informou o jornal russo independente Bell em março.”.

    O economista russo radicado nos EUA Vladislav Inozemtsev, cofundador e membro sênior do Centro de Análise e Estratégias na Europa, disse que a Rússia pode se dar ao luxo de travar uma guerra nos próximos anos. “Pode sustentar esta guerra por um tempo em que a Ucrânia e provavelmente o Ocidente não podem se dar ao luxo de travá-la. Esse é o problema”, declarou Inozemtsev. “Putin parece muito confiante de que pode ir mais longe por talvez um, dois ou três anos. Por enquanto, a situação parece bastante estável.” “O complexo militar-industrial não pode produzir nenhum armamento moderno e atualizado”, disse ele. “Eles estão produzindo tanques e artilharia soviéticos. Eles estão produzindo muitos projéteis e mísseis, mísseis de curto alcance, que são bastante primitivos. Mas, no entanto, eles podem fazer isso em grande número.”.

    A matéria destaca ainda que as sanções não têm funcionado porque as próprias empresas e governos ocidentais estão mais interessados em fazer dinheiro com a guerra do que confrontar Putin. Segundo a matéria, “Logo após a invasão, a Alemanha e várias outras grandes nações europeias, incluindo Itália, Espanha, República Tcheca, Polônia e Áustria, começaram a enviar grandes quantidades de mercadorias através da Turquia e dos vizinhos da Rússia, incluindo Cazaquistão, Quirguistão, Geórgia e Armênia, claramente destinados à Rússia, disse ele. Não havia incentivo para outras nações restringirem o comércio de microchips, bens de uso duplo ou outros bens para a Rússia se a Alemanha e outras grandes potências europeias estivessem enviando carros de luxo e outros bens por meio dos vizinhos da Rússia”.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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