Economia americana vai bem, mas aumento do desemprego preocupa

    Dados mais recentes divulgados mostram que a economia americana apresenta uma trajetória positiva, combinando crescimento acima do esperado, inflação próxima da meta estabelecida pelo Federal Reserve e taxa de desemprego, embora em alta, ainda abaixo das médias históricas.

    Conforme matéria do jornal Valor Econômico (28/8/2024), “a economia dos EUA cresceu no segundo trimestre de 2024 ligeiramente além do previsto e em um ritmo anual saudável, impulsionada por fortes gastos do consumidor e investimentos empresariais, informou o Escritório de Análises Econômicas (BEA, pelas iniciais em inglês). O índice de 3% veio também acima das projeções de economistas.”

    Segundo a matéria, “Os gastos dos consumidores, que respondem por cerca de 70% da atividade econômica dos EUA, aumentaram a uma taxa anual de 2,9% no último trimestre. Isso foi acima dos 2,3% da estimativa inicial. O investimento empresarial expandiu a uma taxa de 7,5%, liderado por um salto de 10,8% no investimento em equipamentos.”

    Ainda segundo a matéria, “a inflação continua a diminuir, embora permaneça um pouco acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). O indicador de inflação preferido da instituição — o índice de gastos de consumo pessoal, ou PCE — subiu a uma taxa anual de 2,5% no último trimestre, abaixo dos 3,4% no primeiro trimestre do ano. E excluindo os preços voláteis de alimentos e energia, o núcleo da inflação do PCE cresceu 2,7%, abaixo dos 3,2% de janeiro a março.”

    A matéria informa também que “O Fed recentemente se tornou mais preocupado em dar suporte ao mercado de trabalho, que vem se enfraquecendo gradualmente, do que em continuar a combater a inflação. A taxa de desemprego aumentou por quatro meses consecutivos, para 4,3%, ainda baixa para os padrões históricos. As vagas de emprego e o ritmo de contratação também caíram, embora permaneçam em níveis relativamente sólidos.”

    O Federal Reserve orienta sua atuação pela busca do equilíbrio entre seus dois mandatos: manter a estabilidade de preços e buscar o pleno emprego. No período imediato pós-Covid-19, em grande medida por causa das distorções causadas pela pandemia, a inflação atingiu o pico de 9,1%, em 2022, o maior nível das últimas quatro décadas, e o déficit público dos Estados Unidos alcançou 7% do PIB.

    Inicialmente considerou-se que a inflação alta era um fenômeno transitório. A expectativa era de que superados os gargalos de oferta causados pela disrupção das cadeias globais de suprimento, os níveis de preços voltariam aos níveis pré-pandemia, o que, na prática, não aconteceu, pelo menos na velocidade que se imaginava. Como afirmou Paul Krugman, em artigo no New York Times (26/8/2024), “Como muitos economistas, inclusive eu, Powell acredita que a inflação foi causada em grande parte por “distorções relacionadas à pandemia” e que “a reversão desses fatores levou muito mais tempo do que o esperado, mas acabou desempenhando um papel importante na desinflação subsequente.”

    Isso levou o Fed a aumentar sua taxa básica de juros 11 vezes em 2022 e 2023, elevando-a para o maior nível dos últimos 23 anos – 5,25 a 5,5% anuais. A inflação anual caiu de um pico de 9,1% para 2,9% em julho de 2024. Se de fato foi a elevação brutal de juros promovida pelo Fed ou a reversão das distorções relacionadas à pandemia que mais contribuiu para a queda da inflação, é uma questão em aberto. Paul Krugman, influente economista americano, prêmio Nobel de economia, por exemplo, acha que a superação das distorções relacionadas à pandemia foi mais importante. Já o grosso dos economistas mais ligados ao pensamento econômico monetarista acham que a política monetária foi o fator principal.

    Até recentemente acreditava-se que essa política monetária restritiva estava atingindo o objetivo de baixar a inflação sem provocar o desemprego em massa como alguns economistas achavam ser necessário. Os dados mostravam que os juros elevados, apesar de afetar negativamente o mercado imobiliário e o financiamento de automóveis, dois dos principais itens de gasto das famílias norte-americanas, praticamente não haviam afetado negativamente o nível de emprego. Durante um longo período a taxa de desemprego permaneceu ao redor de 3,5%, o menor nível das últimas cinco décadas. Estabeleceu-se o consenso de que a economia americana experimentava o que foi denominado de “pouso suave”, ou seja, queda na inflação sem elevação do desemprego.

    Essa percepção, entretanto, mudou nos últimos meses diante da redução do número de vagas e aumento da taxa de desemprego por quatro meses consecutivos, saltando de 3,7% no final de 2023 para 4,3% no último mês de julho. Isso acendeu o temor de que a política de juros altos poderia estar conduzindo a economia americana rumo à recessão e a um pouso turbulento. Isso levou o presidente do Fed, Jerome Powell, a anunciar, em agosto, a intenção do Fed de começar a baixar as taxas de juros a partir da próxima reunião em meados de setembro.

    Conforme noticiou o jornal Valor Econômico (23/8), “O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, afirmou nesta sexta-feira que “chegou a hora de ajustar a política monetária” dos Estados Unidos. Em seu aguardado discurso durante o Simpósio de Jackson Hole, a autoridade máxima do principal banco central do mundo ratificou a expectativa por um corte de juros na reunião de setembro, mas sem se comprometer com o tamanho do movimento ou fazer previsões sobre o que virá depois.”  Na reunião, Jerome Powell afirmou que “Os riscos de alta para a inflação diminuíram. E os riscos negativos para o emprego aumentaram.”

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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