As terras raras são um grupo de 17 elementos químicos essenciais na indústria automobilística, aeroespacial, energia, defesa, semicondutores e produtos eletrônicos. Devido à sua importância estratégica na indústria moderna estão no centro das disputas geopolíticas globais. Países que Trump ameaça anexar têm minérios estratégicos que definirão rumo da Guerra Fria com a China (Estadão, 27/03/2025). Conforme destacou o jornal Valor Econômico (25/4/2025), “A indústria de minerais críticos é um dos pivôs da atual disputa entre os EUA e China. Pequim escolheu a restrição à exportação de algumas terras raras como retaliação às tarifas estratosféricas impostas por Trump.”
Entre as principais aplicações dos elementos das terras raras estão a produção de baterias elétricas, painéis solares, smartphones, computadores, veículos elétricos e híbridos, turbinas eólicas, drones, robôs, mísseis e naves espaciais. Um caça F-35, a joia da coroa da Força Aérea americana, por exemplo, usa 400 quilos desses minerais para construir seus radares, motores elétricos e componentes eletrônicos. Em submarinos e destroieres, o volume é ainda maior: de duas a quatro toneladas, segundo um estudo do Ministério de Defesa da Alemanha (Estadão, 27/03/2025).

A China é o maior produtor mundial de elementos de terras raras, e tanto os EUA quanto a Europa têm procurado reduzir sua dependência de Pequim, o principal adversário geopolítico de Trump. Pesquisadores da Govini, uma empresa de informações sobre aquisição de defesa, identificaram 80.000 peças de armas que foram feitas com antimônio, gálio, germânio, tungstênio ou telúrio – cujo fornecimento global é dominado pela China – “o que significa que quase 78% de todos os sistemas de armas [do Pentágono] são potencialmente afetados” [pelas restrições à exportações impostas pela China] (SCMP, 26/4/2025).
“Os chineses têm larga dianteira, pois mineram 70% dos concentrados de terras raras do mundo, processam 87% do total e refinam 91%. A China é a maior produtora mundial de 30 dos 44 minerais críticos monitorados pelo Serviço Geológico dos EUA, e é alvo de volumosos investimentos desde que Xi Jinping se tornou líder do Partido Comunista Chinês em 2012. É também a maior compradora dos minerais brasileiros e destinou mais de US$ 13,8 bilhões ao ano para investimentos em exploração mineral desde 2022, maior volume trienal em uma década” (Valor Econômico 25/4/2025).
Segundo o Estadão (27/03/2025), Pequim domina amplamente a extração e o refino das terras raras. Os chineses têm 50% das reservas mundiais e controlam70% da produção. Os EUA vêm num distante segundo lugar, com 11%, de acordo com levantamento do Serviço Geológico americano. E por sua importância estratégica na produção tanto de produtos de alto valor agregado, quanto na construção de infraestrutura de energia limpa e de defesa, o controle sobre a cadeia de suprimentos desses minerais tornou-se uma questão estratégica para os EUA.”
A extração dos elementos das terras raras envolvem três diferentes etapas: mineração, processamento e refino. Praticamente toda a terra rara minerada e processada fora da China é para lá enviada para o processo de refino: 95% do material refinado é com tecnologia chinesa (Estadão, 27/3/2025), o que torna a China o principal ator na cadeia global de suprimento de minerais. Conforme destaca o Estadão na matéria citada, Pequim controla a extração e o refino não só de terras raras, mas também de uma categoria mais ampla, a dos chamados minerais críticos. Essas commodities, que incluem metais como lítio, cobalto, níquel e grafite, são usadas hoje em dia nos setores mais estratégicos da economia mundial.”
O Brasil, é o segundo país do mundo com as maiores reservas de terras raras. Depois da China, com reservas estimadas em 44 milhões de toneladas métricas, o Brasil vem em segundo lugar com 21 milhões e o Canadá em terceiro com 15 milhões. Os Estados Unidos sequer aparecem na lista dos seis primeiros que além de China, Brasil e Canadá, tem Índia, Austrália e Russia como se observa no quadro abaixo.

Fonte: Estadão (27/03/2025).
Matéria do jornal Valor Econômico (25/4/2025) informa que ainda é escasso o conhecimento a respeito da qualidade dos minerais críticos disponíveis no solo brasileiro. Estudo da consultoria Deloitte em parceria com a AYA Earth Partners aponta que apenas 35% do potencial mineral do território brasileiro foi mapeado. Ainda segundo o estudo, “apesar de ter 10% das reservas mundiais, o Brasil contribui com apenas 0,09% da produção global de minerais críticos”. Segundo o jornal, “O Guia para o Investidor Estrangeiro em Minerais Críticos para a Transição Energética do Brasil, divulgado pelo MME, informa que o país tem a maior reserva de nióbio do mundo; está em segundo lugar em grafite; em terceiro em níquel e terras raras; em quarto em manganês; em quinto em bauxita e vanádio; em sétimo em lítio; nono em cobalto, e 12º em cobre.”
Conforme notícia publicada no site do Ministério das Minas e Energia (08/08/2023), o Brasil pode se tornar um dos cinco maiores produtores de terras raras do mundo nos próximos anos. Segundo a matéria, “projeção do Ministério de Minas e Energia têm como base o avanço de diversos projetos no país voltados para extração responsável de minérios importantes para o desenvolvimento de indústrias estratégicas, como as de eletrônica, de energia limpa e de medicina”. Segundo informa o ministério, “Atualmente, existem estudos de viabilidade de mineração em execução em Araxá-MG, Morro do Ferro-MG, Serra Verde-GO, Pitinga-AM, Foxfire-BA e Energy Fuels-BA. Já o projeto em Poços de Caldas, no Sul de Minas Gerais, está em fase avançada e entrará em operação em 2026. No Projeto Caldeira, de responsabilidade da Meteoric Resources, em Poços de Caldas, serão investidos R$1,5 bilhão nos próximos três anos. O projeto compreende 51 processos minerários. A partir do início das operações, a previsão é que sejam gerados 500 empregos diretos e 1,5 mil indiretos.
O grande desafio para o Brasil é dominar as três fases do processo de produção dos elementos das terras raras–mineração, processamento e refino, caso contrário o país terá que se conformar à condição de mero fornecedor de matéria-prima. Apesar do nome, as terras raras não são assim tão raras na natureza e o que agrega valor ao minério bruto são as etapas subsequentes de produção, ou seja, o processamento e o refino e, no topo da cadeia produtiva, a produção dos ímãs de terras raras. Basear-se apenas na exploração de matérias-primas, por mais preciosas que sejam, nunca é a melhor opção. O lítio, por exemplo, está em 1/9 do preço que alcançou em 2022. Sem associar à industrialização, a exploração mineral traz poucos benefícios concretos para o desenvolvimento do País ou, pelo menos, muito menos do que seria possível.