China expande economia em 3% em 2022 e toma medidas para recuperar o crescimento

    A meta de crescimento estabelecida pelo governo chinês para 2022 era de 5,5%. O resultado alcançado em 2022, conforme divulgado pelo departamento de estatísticas do governo em janeiro, foi de 3%. Diversos fatores contribuíram para o resultado abaixo do projetado, dentre os quais o mais importante foi a ocorrência de novos surtos de Covid-19 nas principais cidades chinesas ao longo de todo o ano. Devido à estratégia de Zero Covid, recentemente reformulada pelo governo chinês, cada novo surto da doença levava a rigorosos lockdowns, com efeitos negativos sobre a atividade econômica.

    Outras medidas tomadas pelo governo nos últimos dois anos também contribuíram para o relativamente fraco desempenho da economia chinesa, como o freio de arrumação no setor imobiliário, que convivia com uma bolha especulativa e uma onda de falências de incorporadoras, que poderia ter consequências imprevisíveis, um maior nível de regulação no setor de tecnologia, internet e de serviços, como os de tutoria educacional para crianças. No caso do setor imobiliário e de internet muitas das medidas anteriormente tomadas estão sendo revertidas, provavelmente para voltar a estimular a economia e porque os objetivos pretendidos com o aumento da regulação provavelmente tenham sido alcançados.

    O fim da política de Zero Covid, somada às novas medidas de estímulo ao setor de tecnologia e imobiliário deverão contribuir para que a meta de crescimento para 2023, de 5%, seja mais facilmente alcançada. É preciso considerar, contudo, que o desempenho da economia global em 2023, cujas previsões são bastante pessimistas, pode afetar negativamente o crescimento da economia chinesa.

    Ao mesmo tempo em que o governo da China toma uma série de medidas a nível interno para recuperar o crescimento econômico, também procura ajustar sua política externa para evitar o isolamento que os Estados Unidos e seus aliados tentam lhe impor. Conforme observa matéria do FT, “Na área da diplomacia, Pequim não quer se tornar rival de todos os países do Ocidente e não quer parecer isolada em fóruns multilaterais”.  A guerra na Ucrânia tornou a política externa da China em relação à Europa mais complexa, com um espaço de manobra bastante limitado. Apesar de ter a Rússia como importante aliado, a China também tem muitos interesses na Europa Ocidental, inclusive na Ucrânia, e deseja manter boas relações com a União Europeia e o Reino Unido.

    Mesmo não tendo apoiado a decisão russa de invadir a Ucrânia e estar evitando tomar medidas que configurem desrespeito às sanções econômicas impostas à Rússia pelos Estados Unidos e seus aliados da Otan, a China vê-se em uma situação incômoda, principalmente porque os Estados Unidos se aproveitam da situação delicada da China no conflito para tentar aumentar seu isolamento internacional, acusando-a de ser aliada de Putin. Para escapar desse cerco diplomático, a China, além de esforçar-se para manter boas relações com a União Europeia e seus vizinhos no leste, sudeste, centro e sul da Ásia, procura reforçar e aprofundar suas relações com os demais países em desenvolvimento na África e na América Latina.

    Conforme noticiou o jornal chinês Global Times (16/01), o novo ministro das Relações Exteriores da China, Qin Gang, concluiu sua primeira viagem oficial ao exterior desde sua nomeação em 30 de dezembro de 2022, com visitas a cinco países africanos e duas organizações regionais em sua ocupada agenda de oito dias com o objetivo de aprofundar ainda mais os laços de cooperação e amizade entre a China e o continente africano. A última parada da viagem de Qin foi o Egito, onde o chanceler chinês se reuniu com o presidente Abdel-Fattah al-Sisi, o ministro das Relações Exteriores Sameh Shoukry e o secretário-geral da Liga Árabe (AL), Ahmed Aboul Gheit, no Cairo, onde a Liga Árabe está sediada.

    A América Latina também tem um papel importante na política externa da China. Conforme noticiou o jornal Valor Econômico (03/01), Equador e China fecharam acordo de livre comércio que vai gerar alta de US$ 1 bi em exportações aos chineses. No final do ano passado, o presidente do Uruguai declarou que pretendia conversar com a China sobre um acordo de livre comércio. O recém-eleito presidente do Brasil fará em breve uma visita à China visando fortalecer os laços de cooperação bilateral entre os dois países.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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