Brasil, potência agroambiental

    *Revista A Granja – janeiro/2022.

    O país não é o problema, mas sim parte da solução na busca da conversão tecnológica da agricultura mundial. Aliás, é uma definição ampla em que cabe um bom debate.

    Como raciocínio, pondo o olhar pela “pegada de Carbono”, quanto há de preservação dos recursos naturais e finitos empregados na produção mundial dos bens de consumo humano? Para se fazer justiça ao campo, diferentes itens que integram a produção final de alimentos deveriam ter quantificadas as emissões de CO2, desde o modo de vida de um trabalhador urbano de uma indústria, bem como a fonte de energia empregada para ela produzir “químicos” utilizados no combate a pragas. A essa longa e intrincada cadeia desse modelo de agricultura científica globalizada, deve sem sombra de dúvidas, somar-se o modo de vida dos consumidores.

    Muitas pessoas consomem, como suplemento nutricional, diariamente, um produto feito a base de Krill antártico, que é um ser invertebrado conhecido por ser a alimentação básica das baleias. Imagine-se toda a estrutura pesqueira para capturá-lo e de processamento industrial necessária para colocar na mesa do consumidor. Qual é a pegada de Carbono só desse produto, jamais mencionado nas discussões? Ora, o que está sob avaliação concreta? Sem rodeios, o consumo e as emissões de CO2 de habitante do Níger (África) é o mesmo de um da Alemanha ou França?

    Essa volta em torno do tema básico demonstra a maleficência daqueles que apontam seus dedos sujos sobre os países periféricos, mas que não fazem o dever de casa, como a França, em que 86% de sua fonte primária de energia é baseada em usinas nucleares, ora com a justificativa de ser menos agressiva em emissões de CO2. Mas, e o lixo radioativo dessas usinas, que até hoje não tem destino certo e seguro de armazenamento, o qual se constitui em uma mancha moral e de gave irresponsabilidade ambiental? Essa pegada confrontada com a outra tão conhecida não é mais danosa? Seria o caso de promover embargos comerciais aos produtos que empregam essa fonte de energia? Quais produtos da França, com essa matriz energética poderiam entrar no Brasil em se adotando esse viés de avaliação?

    O Brasil achou o seu espaço nos mercados como importante fornecedor de alimentos produzidos com sustentabilidade, apesar do protecionismo histórico de outros competidores. O Brasil atual e sua produção, a título de exemplo, foram moldados pelo Tratado de Madrid (1750), Barão do Rio Branco, Marechal Rondon, Johanna Döbereiner, Ana Maria Primavesi, Embrapa, Allyson Paulinelli. O encadeamento de pesquisas em diferentes áreas há mais de 50 anos traz hoje seus efeitos práticos, que se encaixam como uma luva para atender as exigências ambientais dentro dos novos paradigmas da economia mundial.

    A crescente e diversificada produção de alimentos; legislação ambiental mais rigorosa do planeta; invejáveis indicadores amparados em tecnologia tropical única; bio insumos; processos de integração lavoura, pecuária, floresta e serviços ambientais e o plano Agricultura de Baixo Carbono – ABC geram a receita do sucesso da produção primária brasileira, modelo a ser seguido globalmente.

    É pela soma desses fatores, que o Brasil é uma potência agroambiental.

    Rui Wolfart
    Engenheiro Agrônomo, membro da Associação dos Produtores de Soja (APROSOJA) e colunista em assuntos do campo.

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