Aprofundamento da cooperação Brasil – China pode reduzir os riscos da instabilidade global

    (Foto: oglobo.globo.com)

    Aconteceu, no dia 23 de abril, em Xangai, o Summit Valor Brazil China 2025, evento que reuniu autoridades brasileiras e chinesas, além de lideranças do setor privado dos dois países, para discutir as oportunidades de negócios entre Brasil e China. O momento do encontro foi bastante oportuno dados os desafios que os dois países têm pela frente na nova conjuntura geopolítica e econômica global, na qual todo o arcabouço regulatório do comércio internacional estabelecido com o patrocínio dos Estados Unidos desde a criação do GATT –  Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – em 1947 e da OMC – Organização Mundial do Comércio – em 1994 está sendo posto abaixo por Donald Trump. Se, de um lado, a conjuntura atual está carregada de incertezas e ameaças que vão muito além do comércio, por outro lado representa uma oportunidade de redesenhar o sistema multilateral de comércio que apesar dos seus importantes avanços ainda permanece enviesado para os interesses dos países ricos, nomeadamente em temas relevantes para o  Brasil como o comércio agrícola e o financiamento do desenvolvimento.

    O encontro de um dia contou com sete painéis nos quais foram discutidos temas como agronegócio, energia, mineração, cidades inteligentes, cooperação financeira e indústria automotiva.  Foi destacado tanto por painelistas brasileiros quanto chineses que as relações Brasil-China se encontram em um “momento de ouro” que se traduz não apenas no volume de negócios entre os dois países, mas também na convergência de interesses em temas como óleo e gás e transição energética, a exemplo da biomassa, das energias fotovoltaica, fabricação de veículos elétricos além daqueles temas tradicionais como o comércio de commodities agrícolas e minerais.

    Foi lembrado que, em 2024, as exportações totais brasileiras para o mercado chinês somaram US$ 94,37 bilhões e as importações, US$ 63,6 bilhões. A soja foi o principal produto vendido aos chineses, totalizando US$ 31,5 bilhões. Destacou-se também que embora a China seja hoje o maior parceiro comercial do Brasil, absorvendo 30% das exportações, o país asiático não lidera a lista dos maiores investidores no Brasil.

    No setor do agronegócio destacou-se que além de cooperação tecnológica, desenvolvimento de projetos sustentáveis e financiamento, o incremento das relações comerciais no agronegócio entre Brasil e China depende de logística eficiente, capaz de suportar a expansão do escoamento de produtos entre os dois países. Nesse sentido, Guo Junping, diretor de política e estratégia da Cofco, uma das maiores tradings agrícolas do mundo, comentou sobre as intenções da companhia na ampliação da estrutura logística no Brasil. Recentemente, a empresa investiu R$ 1,2 bilhão na compra de locomotivas e vagões para melhorar a operação de transporte de grãos até o terminal do grupo no Porto de Santos. No mesmo sentido foi lembrado que, em abril, entrou em operação uma nova rota marítima que liga o porto de Gaolan, na cidade de Zhuhai, e os portos brasileiros de Santana (AP) e Salvador (BA). Esse corredor de navegação permitirá a redução de 30 dias no tempo de transporte de mercadorias e de 30% dos custos logísticos.

    Foi destacado também que o Brasil é detentor de importantes reservas de minérios e a China é o principal cliente do produto brasileiro. De acordo com o Instituo Brasileiro de Mineração (Ibram), em 2024 o país asiático foi o destino de 71,2% das exportações de minério de ferro do país, 70,8% do manganês, 45% do nióbio, 25,7% do cobre e 21,2% do alumínio. Liu Qiang, diretor-geral da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF) na China, lembrou que a qualidade do minério de ferro brasileiro, que permite uma produção de aço mais sustentável (por seu alto teor de ferro), é valorizada pelas siderúrgicas chinesas, que estão empenhadas na descarbonização de seus processos. A indústria do aço é responsável por 15% das emissões de carbono na China.

    Além das oportunidades, destacou-se os riscos para o Brasil de um eventual acordo entre Estados Unidos e China para encerrar a atual guerra comercial. Foi lembrado que o Brasil é competidor dos EUA em várias coisas que são vendidas para a China. Se esse acordo tiver que envolver algo da participação americana em soja e carnes, por exemplo, isso seguramente poderá afetar o Brasil. O impacto poderia ser significativo: cerca de 70% da soja exportada pelo Brasil em 2024 tiveram a China como destino.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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