A montanha russa da política comercial dos Estados Unidos

    (Foto: BrasildeFato)

    A nova política comercial dos Estados Unidos é como as nuvens. Cada vez que você olha, está de um jeito. Desde o dia 02 de abril, quando Trump anunciou as “tarifas reciprocas” elevando as tarifas para todos os parceiros comerciais para valores variáveis conforme o tamanho de déficit comercial de cada país com os Estados Unidos, com um piso mínimo de 10%, a montanha russa das tarifas  tem sido tão perturbadora que é até difícil saber o que está valendo. Um dos últimos anúncios de Trump foi a elevação das tarifas para a China para 145%, reduzindo-as depois da reunião com os chineses para 30% por 90 dias, ao mesmo tempo em que a China concordou em reduzir de 125% para 10% as tarifas que iria  impor aos Estados Unidos no mesmo período. No lance seguinte anunciou tarifas de 50% para os produtos da União Europeia a partir de 1° de julho, mas logo recuou restabelecendo o prazo de 9 de julho para permitir que as negociações entre Washington e o bloco de 27 países produzam um acordo. Em seguida ameaçou taxar os Iphones da Apple fabricados fora dos Estados Unidos em 25% e subiu as tarifas sobre as importações de alumínio e aço dos 25% iniciais para 50%. Alguns  afirmam Trump dá uma de louco para forçar uma negociação mais favorável aos Estados Unidos repetindo a fórmula consagrada pelo ex-Presidente Nixon. Mas, se o objetivo é apenas negociar o acesso dos produtos norte-americanos em outros mercados, como fica a promessa de arrecadar bilhões de dólares para cobrir a prometida redução de impostos para os mais ricos? Na primeira hipótese, as tarifas seriam apenas temporárias, instrumentos de negociação. Por outro lado, para compensar a redução dos impostos  as tarifas teriam que ser permanentes. Está aí uma conta que não fecha.

    Um motivo alegado para o aumento de tarifas seria o de forçar as empresas que exportam para os Estados Unidos, inclusive as norte-americanas que foram para fora em busca de mão-de-obra mais barata, a voltarem a produzir em território norte-americano. Mas para isso as tarifas também teriam que ser permanentes e não apenas um expediente para negociar.

    Embora os objetivos anunciados por Trump sejam claros – reduzir o déficit comercial, tornar a economia americana mais competitiva com um dólar menos valorizado, mas preservar o papel do dólar como moeda internacional e obrigar os aliados dos Estados Unidos a pagarem por sua própria segurança – a forma como deseja alcançar tais objetivos não está clara, mesmo porque em cada ação visando se aproximar de um dos objetivos se afasta de outros.

    O fato é que tanta confusão está tornando os Estados Unidos, sempre visto como um porto seguro em tempos de crise, em uma fonte de instabilidade global. Prova disso é que muitos investidores estão fugindo das ações e títulos do tesouro americano e os bancos centrais buscam outras alternativas para compor suas reservas internacionais além dos títulos do tesouro americano cuja classificação de risco foi rebaixado pelo Moody’s, no mês de maio, de AAA para Aa1, um grau abaixo da melhor classificação. Confiança é algo que leva décadas para construir, mas pode ser destruída em instantes e, depois que se perde, é muito difícil de ser recuperada. Depois desse terremoto, ninguém mais verá os Estados Unidos como antes.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

    Não há posts para exibir

    Deixe um comentário

    Escreva seu comentário!
    Digite seu nome aqui