*Alexandre Sugamosto
No dia de 06 de Abril de 2024 relembra-se os 186 anos da morte de um dos personagens mais importantes de nossa história: José Bonifácio de Andrada e Silva. Conhecido muitas vezes apenas pelo seu epíteto de Patriarca da Independência, Bonifácio foi figura de proa nos dramáticos eventos que culminaram na proclamação da Independência (guerra que foi, em número de homens e combatentes, maior que as travadas por Bolívar e José de San Martín).
Figura tardia na política, ingressou na atividade apenas aos 58 anos, José Bonifácio teve também carreira proeminente como cientista, tendo recebido reconhecimento internacional ainda em vida. Descobriu quatro minerais, incluindo a petalita, que mais tarde permitiria a descoberta do lítio, e a andradita, batizada em sua homenagem. O relativo esquecimento de sua obra científica só foi corrigido em 2006, quando o então Presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, viabilizou a impressão das Obras Científicas Políticas e Sociais em 3 volumes.
A prova máxima de seu prodígio, entretanto, reside no fato de que em apenas três anos de atividade política, Bonifácio tenha garantido ao Brasil a soberania nacional, a integridade territorial e a unidade política. Sendo Ministro do Reino e dos Negócios Estrangeiros de janeiro de 1822 a julho de 1823, José Bonifácio de Andrada propunha reforma agrária, abolição gradual da escravatura, direito de voto aos analfabetos, extinção imediata do tráfico negreiro entre outras. Não por menos, foi odiado e combatido tanto pelas elites locais quanto por muitas autoridades portuguesas.
Articulações políticas desastrosas e interferências estrangeiras fizeram com que esse mesmo Bonifácio fosse considerado traidor, preso e depois exilado de sua pátria. Retornando do exílio, o Patriarca foi nomeado tutor de Dom Pedro I, herdeiro bragantino da Coroa. O ódio contra sua tutoria, contudo, nunca cessou e em 15 de Dezembro de 1833, o liberal Aureliano de Souza e Oliveira Coutinho, que aspirava ao cargo, suspendeu José Bonifácio de suas funções.
Em 7 de Setembro de 1862, tendo Bonifácio falecido há muito, Dom Pedro II inaugurou a estátua do Patriarca no Largo do São Francisco em São Paulo com as seguintes palavras: “As nações se engrandecem com as homenagens prestadas e seus varões ilustres. José Bonifácio de Andrada e Silva é digno da veneração que lhe tributam todos os brasileiros e eu lhe consagro também como grato pupilo”. Palavras diplomáticas, por certo, mas que não fazem jus ao trabalho hercúleo que Bonifácio empreendeu em defesa do nascente Brasil independente.
Em que pesem possíveis erros políticos e ideológicos, uns frutos de sua época e outros de sua mentalidade individual, a Frente Sol da Pátria louva a memória de José Bonifácio de Andrada e Silva e sua atitude de fé inabalável na grandeza do Brasil.
*Alexandre Sugamosto é Bacharel em Filosofia, Mestre e Doutorando em Ciências da Religião (PUC-MG). Pesquisa os temas do profetismo português, com foco no sebastianismo e nas relações entre Religião e Literatura. É autor dos livros “Cárcere”, “Apolo cantador de feira” (no prelo) publicados pela editora Sator e organizador das coletâneas “Compreender Gilberto Freyre”, Edições Sol da Pátria, e “Religião Política e Espaço Público”, com Wellington Teodoro da Silva, publicado pela Ed.Dialética.