O desafio de diversificar a pauta exportadora é urgente para o Brasil. Países altamente dependentes da exportação de alguns poucos produtos, nomeadamente commodities minerais e agrícolas, tornam-se muito mais vulneráveis às oscilações bruscas da economia mundial. Da mesma forma que em tempos de bonança podem se beneficiar da melhoria dos termos de troca, como ocorreu com o Brasil e outros países da América Latina na primeira década do século XXI, em momentos de recessão global veem suas receitas de exportações, que, não raro, são o componente mais importante de seu PIB, despencar, sem que nada possam fazer para compensar os efeitos devastadores em suas economias.
Como bem demostrou Raul Prebisch, o renomado economista argentino de meados do século XX, o principal expoente, ao lado de Celso Furtado, da escola estruturalista latino-americana, que inspirou as políticas de substituição de importações na região entre as décadas de 1940 e 1970, quando, Argentina e, sobretudo Brasil, conseguiram avançar enormemente em seu processo de industrialização, há uma tendência histórica de deterioramento das relações de troca entre matérias-primas e produtos manufaturados.
Enquanto estes últimos, sobretudo graças ao processo de inovação tecnológica, tendem a se valorizar cada vez mais, as matérias-primas, ao contrário, têm seus preços formados nos mercados internacionais e há muito pouco que os seus produtores possam fazer para manter seu preço em momentos de queda de demanda. Na medida em que essas matérias-primas se tornam mais escassas, como o petróleo, e seus preços tendem a subir, a tendência é que as inovações tecnológicas encontrem produtos substitutos, de modo que seus produtores nunca se beneficiam dessas inovações. O contrário ocorre com os fabricantes de produtos manufaturados que incorporam as inovações tecnológicas aos seus produtos e processos.
Conforme noticiou o jornal Valor Econômico (20/10), “Oito commodities responderam por quase dois terços do valor das exportações brasileiras no acumulado de janeiro a setembro deste ano. No período, as vendas ao exterior do complexo soja, petróleo bruto e óleos combustíveis, minério de ferro, complexo carnes, açúcar, milho, celulose e café somaram US$ 163,2 bilhões – 64,5% do total exportado, de US$ 253 bilhões. A fatia é um pouco superior aos 63,5% do mesmo período de 2022, equivalendo a quase duas vezes e meia os 26,3% dos nove primeiros meses do ano 2000.
As vendas para a China, dominadas por commodities, explicam boa parte do avanço desses produtos na pauta brasileira de exportações neste ano. De janeiro a setembro, os embarques para o país asiático cresceram 10,8%, para US$ 77,2 bilhões. A fatia das exportações para a China subiu de 27,5% nos nove primeiros meses do ano passado para 30,5% no mesmo período de 2023. As vendas para os EUA e União Europeia estão em queda neste ano. O salto das commodities na pauta de exportações desde o ano 2000 ocorreu num cenário marcado pela forte demanda da China por bens que o Brasil produz com eficiência, ao mesmo tempo em que a indústria enfrenta problemas crônicos de competitividade. “É China na veia”, resume Livio Ribeiro, sócio da BRC Consultoria e pesquisador do FGV Ibre. De janeiro a setembro de 2000, a China ficou com 1,9% das exportações brasileiras”.
É importante observar, contudo, que uma coisa não exclui a outra. Ou seja, o Brasil pode e deve continuar a ser um grande exportador de commodities, mas sem abrir mão de diversificar e enobrecer sua pauta exportadora, seja agregando valor a essas mesmas commodities que exporta, nomeadamente, as commodities agrícolas, seja fazendo esforços para reverter o processo em curso de desindustrialização pelo qual o país passa atualmente. Talvez o melhor exemplo para nós, nesse caso, sejam os Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que, ao lado do Brasil, é um dos maiores exportadores mundiais de produtos agrícolas, também domina a produção de mercadorias situadas na fronteira tecnológica. Nós precisamos aproveitar as vantagens que as condições geográficas nos proporcionam para produzir e exportar recursos naturais, mas evitar que isso se torne uma muleta para compensar as desvantagens de um setor industrial pouco competitivo, a malfadada “maldição dos recursos naturais”.