Lorenna Rodrigues e Eduardo Rodrigues / Agência Estado
Associações de classe, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
prometem barrar no Congresso a proposta de emenda à Constituição (PEC)
que, no entendimento dessas entidades, acaba com a obrigatoriedade de
inscrição em conselhos de fiscalização profissionais.
Presidentes de órgãos de classe têm procurado apoio entre os
parlamentares para derrubar a PEC, que coloca os conselhos profissionais
como entidades da iniciativa privada, sem nenhuma relação com a
estrutura da administração pública.
Assinada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, a proposta prevê que
não poderão ser estabelecidos limites ao exercício de atividades
profissionais nem ser obrigatória a inscrição em conselho profissional,
salvo quando a ausência de regulação caracterize “risco de dano concreto
à vida, à saúde, à segurança ou à ordem social”.
“Conselhos são entidades privadas sem fins lucrativos que atuam em
colaboração com o poder público, às quais se aplicam as regras do
direito privado e a legislação trabalhista”, diz trecho da proposta.
Atualmente, o Brasil tem mais de 900 ocupações reconhecidas, sendo que
apenas 68 delas são regulamentadas por alguma instituição. Somando as
entidades de abrangências nacionais e regionais, o Tribunal de Contas da
União (TCU) contabiliza cerca de 600 conselhos profissionais.
O texto não estabelece que profissões poderiam continuar tendo a
obrigatoriedade de inscrição mantida. Hoje, a exigência de que
profissões precisam de aval de entidades de classe é determinada por
leis federais e vale para categorias diversas, como médicos,
engenheiros, advogados, corretores e músicos.
O Ministério da Economia argumenta que a PEC não muda em nada a
estrutura atual dos conselhos profissionais e não tem o objetivo de
impedir a continuação das suas atividades. Segundo o governo, o objetivo
é deixar claro na Constituição que esses conselhos são entidades
privadas, e não autarquias. Ou seja, constitucionalizar que o Estado não
deverá se meter na regulamentação de qualquer profissão, mantendo a
autorregulação para as atividades cujos conselhos estão previstos em
leis.
De acordo com o governo, muitos funcionários desses conselhos têm
recorrido à Justiça pedindo que essas instituições sejam reconhecidos
como entidades públicas – com status de autarquias. Com isso, alegam que
o corpo funcional teria estabilidade e não poderiam ser demitidos.
Por isso, a principal motivação do governo com a PEC é – em linha com a
ideia de diminuir o tamanho do Estado – definir que esses órgãos são
entidades privadas e que seus funcionários são regidos pela legislação
trabalhista. “Nos últimos anos, a questão envolvendo a natureza jurídica
dos conselhos repercutiu dentro da administração, tendo surgido na
jurisprudência entendimentos díspares”, afirma Guedes, na exposição de
motivos da proposta.
Repercussão. Para a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o
objetivo da PEC é “calar a advocacia e desproteger o cidadão”. Em nota, a
OAB afirma que a proposta é “diametralmente oposta” à intenção de
promover o desenvolvimento econômico e foi apresentada sem debate com
conselhos e outros setores da sociedade.
“Ao desobrigar os profissionais da inscrição em seus respectivos
conselhos, a proposta ceifa um dos mais importantes instrumentos de
defesa da sociedade na fiscalização profissional. A fiscalização do
exercício profissional não é obstáculo, e sim instrumento de
fortalecimento das atividades e dos serviços prestados à sociedade”,
afirma a entidade.
A OAB defendeu que busca fomentar a excelência profissional por meio da
exigência de prova, dada a multiplicação de cursos de graduação em
Direito “nem sempre amparados nos devidos parâmetros de qualidade” e
disse que trabalhará pela rejeição integral da PEC.
O presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Wellington
Leonardo da Silva, disse que ao transformar os órgãos de classe em
entidades privadas, o governo acaba com o “poder de polícia” dos
conselhos e impede a fiscalização. “Um grupo privado não terá autoridade
para fiscalizar profissionais. É mais um ataque ao mundo do trabalho.
Já fragilizaram a Justiça do Trabalho, as regras trabalhistas, e agora
querem acabar com sistema de fiscalização de profissões”, afirmou.
Ele defende que, apesar de terem características públicas, os conselhos
têm autonomia orçamentária e não recebem repasses do governo. “Os
conselhos vivem do que arrecadam, ninguém recebe nenhum centavo do
governo”, afirmou.
O Conselho Federal de Medicina disse que a área jurídica está estudando o
texto da PEC antes de o órgão decidir as próximas ações. O Conselho
Federal de Engenharia e Agronomia não quis se manifestar.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.