Estados Unidos e China avançam em direções opostas na questão ambiental

    (Foto: Poder 360)

    Estados Unidos e China são os dois maiores poluidores do mundo. Lideram o uso de combustíveis fósseis e de emissão de CO². Essa é a foto. O que a foto não revela, contudo, é que os dois países estão avançando em direções diferentes. É como se fossem duas locomotivas paradas na mesma estação, mas trafegando em sentidos opostos.

    No mesmo momento em que o residente Trump, ao tomar posse de seu segundo mandato, assinou uma série de ordens executivas visando expandir a produção de petróleo e o consumo de combustíveis fósseis (Perfure garoto, Perfure!, disse Trump em seu discurso de posse) e retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre o Clima, a China instalou uma capacidade recorde de energia renovável.

    De acordo com o jornal Folha de S. Paulo (21/01/2025), o país adicionou cerca de 277 gigawatts (GW) de energia solar em 2024, acima dos 217 GW adicionados em 2023. Além disso, segundo o jornal, a China expandiu sua capacidade de energia eólica em cerca de 80 GW, também mais do que no ano anterior (76 GW). A expansão leva a capacidade total instalada de energia solar e eólica para 887 GW e 521 GW, respectivamente, 15% acima da meta do presidente Xi Jinping para 2030 de 1.200 GW.”

    A decisão de Trump de deixar o Acordo de Paris coloca a questão de quem ocupará o lugar vazio dos EUA na nova ordem climática global: China, União Europeia, Brasil? Embora fazendo um enorme esforço para melhorar a qualidade de sua matriz energética e alcançar a neutralidade de carbono até 2060, a China tem outras prioridades. Para as empresas chinesas, a energia limpa transformou-se em excelente negócio.

    A China é hoje líder mundial na produção de carros elétricos, baterias elétricas, painéis solares e turbinas eólicas, além de ser líder global no desenvolvimento de tecnologias para o refino dos minerais das Terras Raras, essenciais para muitas aplicações relacionadas à geração de energia limpa. Nas relações comerciais Brasil-China, por exemplo, produtos ligados à transição energética, como painéis solares e carros elétricos, representaram 11,4% das importações brasileiras vindas da China em 2024 (Folha de S. Paulo, 17/01/2025).

    Sem uma liderança clara, a tendência é que a cooperação global na questão do clima, que pelo menos desde o final da gestão de Barack Obama até o término do governo Biden, estava sob a liderança dos Estados Unidos, fique meio perdida. Isso deve se refletir já na COP-30, a ser realizada no Brasil, na cidade de Belém, no final de 2025. Sem a participação dos Estados Unidos que, ao lado da China, são os maiores emissores mundiais de dióxido de carbono, mas que até agora também era um financiador importante de ações visando conter o aquecimento global abaixo de 1,5° C, a COP 30 corre o risco de se tornar um evento esvaziado.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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