Juros caem nos Estados Unidos

    (Foto: Terra)

    Como já havia sido anunciado, em agosto, por Jerome Powell, presidente do Fed, o banco central dos Estados Unidos, os juros começaram a cair. As taxas dos chamados Fed Funds foram reduzidas da faixa de 5,25% a 5,5% para a faixa de 4,75% a 5.0%.

    Para fazer frente a uma inflação que atingiu o pico de 9,1%, em 2022, o maior nível das últimas quatro décadas, o Fed aumentou a taxa básica de juros 11 vezes, entre 2022 e 2023, elevando-a para o maior nível dos últimos 23 anos – 5,25 a 5,5% anuais. As taxas começaram num intervalo entre 0% para 0,25% no início de 2022 e subiram para 5,25% a 5,5% em julho de 2023. Essa forte elevação da taxa de juros, aparentemente, não havia afetado de forma significativa o nível de atividade e o nível de emprego, o que levou os analistas a falarem em “pouso suave” da economia norte-americana.

    Essa percepção, entretanto, mudou nos últimos meses diante da redução do número de vagas e aumento da taxa de desemprego por quatro meses consecutivos, saltando de 3,7% no final de 2023 para 4,3% no último mês de julho. Isso acendeu o temor de que a política de juros altos poderia estar conduzindo a economia americana rumo à recessão e a um pouso turbulento e levou o presidente do Fed, Jerome Powell, a anunciar, em agosto, a intenção do Fed de começar a baixar as taxas de juros a partir da próxima reunião em meados de setembro. “Faremos tudo o que pudermos para apoiar um mercado de trabalho forte à medida em que avançamos em direção à estabilidade de preços”, afirmou Powell, no mês passado, quando anunciou o início da flexibilização da política monetária (Valor, 20/9/2024). Com a taxa de inflação já bem próxima da meta de 2%, a preocupação do Fed é garantir um pouso suave da economia mudando assim o foco para a questão do emprego.

    Mas para que nível o Fed pretende conduzir a taxa de juros nos próximos meses? Partindo do pressuposto de que a taxa de inflação se mantenha perto de 2%, a tendência do Fed é buscar a “taxa de juros neutra”, ou seja, a taxa de juro teórica que o Fed acredita permitir que o emprego seja tão elevado quanto possível enquanto a inflação se encontra dentro do intervalo-alvo, que Jerome Powell já disse não saber qual é. Conforme afirmou Nick Timiraos, no Wall Street Journal (22/9/2024), “O Fed não sabe em nenhuma das frentes. As autoridades geralmente definem a política com o objetivo de descobrir onde está sua taxa de juros em relação a uma chamada taxa neutra que não estimula nem desacelera o crescimento. A taxa neutra não pode ser observada. Antes da pandemia, a maioria dos funcionários do Fed pensava que essa taxa neutra havia caído para 2,5% ou menos. Agora, muitos acham que a taxa aumentou. Os possíveis contribuintes incluem o aumento das definições governamentais e novas fontes de demanda por investimentos.”. Entretanto, ao anunciar que a taxa dos Fed Funds “a longo prazo” subiu para 2,9% nas últimas projeções, de 2,8% em junho, o Fed admite, implicitamente, que fará pelo menos mais dois cortes 0,25% este ano e um corte de 1% em 2025, o que deve levar a taxa de juros nos Estados Unidos para algo em torno de 3,0% e 3,5% no próximo ano.

    Com juros baixando e atividade econômica em alta, o dinheiro está correndo para o mercado acionário norte-americano, nomeadamente para as empresas de tecnologia. As ações da Nvidia, empresa de tecnologia com sede em Santa Clara, Califórnia, que produz microprocessadores para inteligência artificial, valorizaram 227,44% em um ano, depois de terem triplicado de preço em 2023.  Esse movimento se reflete em saída recorde de dólares no Brasil, o que, apesar do enfraquecimento do dólar em nível global, não permite que o preço do dólar caia no Brasil.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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