Más noticiais sobre a economia dos Estados Unidos repercutiram no mundo todo, derrubando bolsas de valores e, paradoxalmente, levando à valorização da moeda norte-americana. A valorização do dólar em momentos de crise, mesmo que seja nos Estados Unidos, país que o emite, deve-se ao seu status atual de moeda de reserva internacional. Em momentos de crise, os investidores procuram abrigo em ativos considerados mais seguros para que possam se proteger da flutuação violenta de preço de ativos mais voláteis e suscetíveis de maior desvalorização em momentos de turbulência. É por isso que em momentos agudos de crise a tendência é a queda das bolsas de valores, que negociam ações e outros ativos menos líquidos, e a valorização do dólar, que reúne as duas qualidades mais importantes nesses momentos: estabilidade e liquidez.
O momento de pânico global foi causado pelas notícias de que a economia americana poderia estar caminhando para o chamado “pouso forçado” ao invés da trajetória de “pouso suave” que vinha percorrendo nos últimos meses, caracterizada pelo fato de que a elevação de juros para combater a elevação da inflação nos Estados Unidos aparentemente não estava afetando de forma significativa o desempenho econômico.
O indicador preferido desse “pouso suave” era a taxa de desemprego, que apesar do aperto das condições monetárias que, em tese, deveriam provocar queda no consumo, na produção e no investimento, vinha se mantendo incrivelmente baixa. O alarme disparou, contudo, quando os números mais recentes mostraram que a taxa de desemprego voltou a crescer – a taxa oficial subiu para 4,1% em junho, em comparação com 3,6% um ano antes – despertando o temor de que a economia americana estaria embicando para uma nova recessão. Reforçou esse temor a declaração do presidente do FED, o Banco Central dos Estados Unidos, de que poderia retomar um movimento de queda de juros.
Nunca é demais lembrar que os dois principais itens de gasto das famílias norte-americanas são os imóveis e os automóveis e que ambos são diretamente afetados pela taxa de juros uma vez que tanto uns quanto outros são adquiridos via financiamento. Com uma taxa de juros que subiu nos últimos anos de cerca de 3% para mais de 7%, as famílias postergaram as decisões de compra de imóveis e de carros, o que impactou negativamente os dois setores e, por extensão, todo o conjunto da economia norte-americana.
Faz sentido, portanto, supor que a probabilidade de o FED iniciar um movimento de queda de juros já em setembro próximo aumentou consideravelmente. Isso, contudo, pode não ser uma boa notícia para a campanha de Donald Trump, cuja crítica às elevadas taxas de juros é uma das principais bandeiras de campanha. Por outro lado, manter as taxas de juros nos níveis atuais significa enfraquecer ainda mais a economia e dar combustível para a campanha de Trump. Conforme destacou o Wall Street Journal (05/8/2024) “Entregar um corte de juros antes da eleição pode irritar os republicanos e o ex-presidente Donald Trump, mas não fazer uma redução necessária pode minar a economia e incomodar os democratas.”
Ainda segundo o jornal, “Em entrevista à Bloomberg Businessweek em junho, Trump disse que o atual nível de taxas do Fed é “muito difícil” para a economia, mas que mudar para taxas mais baixas antes da eleição é algo que as autoridades do banco central “sabem que não deveriam estar fazendo.” Os aliados de Trump sinalizaram que aumentarão a pressão sobre Powell se ele avançar com um corte de juros em setembro. Eles temem que isso possa aumentar o sentimento e dar aos democratas um ponto de discussão triunfante sobre a economia. “Teria um impacto mínimo se eles esperassem até novembro – depois que a eleição terminasse”, disse Michael Faulkender, economista do Departamento do Tesouro durante o governo Trump”. Resta aguardar até setembro para saber qual será a decisão do FED.