O colunista especializado em segurança nacional David Singer, do jornal New York Times, fez um balanço das ações do Presidente Trump em entrevista para a CNN Internacional em 23 de dezembro passado, apresentando uma excelente avaliação da geopolítica mundial em 2019.
UM DESASTRE COMPLETO DA GEOPOLÍTICA
AMERICANA.
Em troca de fotografias para se mostrar vitorioso, Trump teve três encontros com o líder da Coreia do Norte, que DEPOIS dos encontros encorpou seu arsenal nuclear de 19 para 32 ogivas e aumentou em 62% seu estoque de urânio processado para novas ogivas.
Trump montou esses encontros sem levar uma agenda, uma proposta concreta, e todos os veteranos do Departamento de Estado foram desconsiderados.
Uma reunião de dois chefes de Estado é o FINAL, o FECHO DA NEGOCIAÇÃO, que começa com diplomatas. Tem que estar tudo acordado para a cerimonia final com os chefes de Estado, mas Trump não estava interessado em acordo concreto, só queria
as fotos do inédito encontro dos dois líderes para mostrar para sua base.
IRÃ
Com sanções cada vez maiores contra o Irã, que estava cumprindo um acordo assinado com o presidente Barack Obama e tinha o aval dos demais membros do Conselho de Segurança da ONU mais a Alemanha e com a adesão e fiscalização da Agência Internacional de Energia Atômica da ONU, atestando todos que o Irã estava cumprindo o acordo, Trump recriou na região uma crise que tinha sido resolvida. Seu objetivo ao romper com o Irã foi estigmatizar Obama, que fez o acordo.
CONCLUSÃO: Em 27 de dezembro se iniciaram MANOBRAS NAVAIS DO IRÃ COM A RÚSSIA E A CHINA NO OCEANO ÍNDICO.
Trump jogou o Irã no BLOCO CHINA-RÚSSIA, algo novo em manobras militares conjuntas, o que aumentou consideravelmente a tensão antiamericana na região do Índico + Pacífico.
A tradição da diplomacia americana é impedir a formação de blocos antagônicos aos interesses dos EUA, Trump faz o contrário.
O assassinato político do General Suleimani rompeu um pacto não escrito há séculos quando os líderes de Estado e forças militares organizadas mantêm um protocolo de autoproteção que é respeitado mesmo em guerras declaradas e foi cumprido nas guerras mundiais com uma exceção, rompida pelos EUA com o assassinato do Almirante Yamamoto, Comandante da Marinha Imperial Japonesa em 18 de abril de 1943. Tal ato foi duramente discutido e criticado na alta cúpula militar dos EUA na época como sendo indigno.
Assassinar adversários políticos, que fazem parte de um Estado formal, não importa o pretexto, historicamente abre as portas do inferno porque exige retaliação na mesma moeda. Todavia, Trump e seus semelhantes não são afetos a pactos e protocolos civilizatórios, o seu mundo é o de seus interesses imediatos a curto prazo, o resto não importa, nem País e nem mundo.
RÚSSIA E UCRÂNIA
Pela terceira vez em seis meses Trump troca seu Assessor de Assuntos da Rússia, o novo nunca esteve na Rússia e não sabe nada daquele País. A razão: O Departamento de Estado tem 70 especialistas em Rússia, conhecedores profundos da região, MAS a doutrina tradicional do Departamento de Estado é tratar a Rússia como POTÊNCIA DE CONFRONTO, enquanto a política de Trump é AGRADAR A RÚSSIA.
Então os especialistas do Departamento de Estado não servem, porque foram treinados para tratar a Rússia como potência confrontante e não como país a ser
agradado por Trump, que adora Putin.
Como disse a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, política veterana e sagaz, conhecedora da política externa americana, com décadas de observação,
Trump não tem uma linha compreensível em política externa. As ações de Trump são CAÓTICAS E SEM LÓGICA, mas há, segundo Pelosi, algo em comum em todas as ações de política internacional de Trump, TODAS BENEFICIAM A RÚSSIA.
Dentro desse caos, foram trocados em curto espaço de tempo TRÊS embaixadores na Ucrânia, porque os diplomatas de maior nível NÃO aceitam as chantagens de Trump contra o presidente da Ucrânia no caso Biden. Trump sacrifica as relações externas por seu projeto político pessoal.
OS TRÊS LÍDERES DA ULTRA DIREITA MUNDIAL
Na mesma matéria da CNN, um balanço das relações externas americanas em 2019, TRÊS LÍDERES MUNDIAIS da linha ultradireita nacionalista, segundo a CNN, TRUMP, NETANIAHU E NARENDRA MODI, fazendo um balanço da gestão de cada um e seus pontos em comum, esqueceram do Brasil.
Em um planeta conflituoso, que começa 2020 pela leviandade de um Trump, que inicia conflitos pelo mundo para criar matérias de twitter para sua base ignorante, o Brasil se imiscui perigosamente abandonando uma postura tradicional de equilíbrio,
que marca a história do País desde o Barão do Rio Branco no início da República e vinha sendo mantida atravessando períodos complicados da geopolítica mundial.
Sair dessa linha sem qualquer lógica de algum ganho pelo adesismo pode custar caro ao País a curto, médio e longo prazos, manchando uma tradição secular de alta diplomacia.
O Brasil tem dimensão, história, economia e tradição para ser um grande País harmonizador nas relações internacionais, vinha exercendo com maestria essa função rara desde a presidência da Assembleia Geral da ONU por dois anos, entre 1947 e 1949, criando valioso capital diplomático.
Sair dessa linha representa uma extraordinária perda de categoria no complicado xadrez da geopolítica mundial, perda real, histórica e econômica.