A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) é uma aliança militar liderada pelos Estados Unidos, criada em 1949, que atualmente reúne 30 países da Europa e da América do Norte. Seu objetivo inicial era contrapor militarmente o “Ocidente” – leia-se Estados Unidos e Europa – à ex-União Soviética no contexto da Guerra Fria. Com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e o fim da própria URSS, em 1991, a aliança militar perdeu seu sentido inicial de existência, mas nem por isso foi desfeita, passando, desde então, a funcionar como instrumento de reafirmação da hegemonia militar dos Estados Unidos e de legitimação das agressões militares norte-americanas mundo afora.
Toda vez que algum país resolve contestar o poderio militar norte-americano ou se contrapor aos interesses econômicos e ideológicos do chamado “Ocidente”, a aliança é acionada para punir o infrator. Foi assim, em 2011, quando as forças da Otan ajudaram a derrubar o então presidente da Líbia, Muammar Gaddafi, lançando o país no caos do qual nunca mais saiu e, em 1999, contra a República Federal da Iugoslávia durante a Guerra do Kosovo. De acordo com a Otan, a operação na Iugoslávia buscava deter os abusos de direitos humanos no Kosovo e foi a primeira vez que a organização usou a força militar sem a aprovação do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Na verdade, tanto em um quanto em outro caso, o objetivo real era a substituição de governos locais antiamericanos por governos alinhados com Washington no que ficou conhecido como as “Primaveras Árabes” e as “Revoluções Coloridas”. Inspiradas no conceito de “guerra híbrida” o objetivo desses movimentos era desestabilizar governos antiamericanos por meio de manifestações de massas em nome de reivindicações abstratas como democracia, liberdade, etc. Se tais movimentos não fossem suficientes para derrubar e substituir o governo, avançava-se para o estágio da guerra não-convencional (guerrilhas, milícias, insurgências) e, finalmente, para a guerra convencional.
No relato a seguir, traduzido do site Other News. Voices Against the Tide. https://www.other-news.info/crimes-against-humanity-serbias-law-suit-against-nato/ fica evidente que as preocupações com “os direitos humanos” eram apenas um subterfúgio conveniente para justificar uma ação militar violenta cujo único propósito era promover a troca de governos. Como se verá no relato a seguir, as forças da Otan, para “defender os direitos humanos” na Iugoslávia, lançaram mais de 15 toneladas de urânio sobre a Sérvia, deixando um rastro de destruição e morte que persiste até hoje. Vejamos:
“Mais de 4.000 cidadãos da Sérvia, incluindo Kosovo e Metohija, estão processando a Otan. Seus diagnósticos de câncer são uma consequência direta dos bombardeios da Otan na Iugoslávia em 1999, liderado pelos Estados Unidos. Em 2022, Srdjan Aleksic, um advogado de Nis, na Sérvia, iniciou um processo legal contra a Otan. Desde 2017 (quando começou a recolha de provas) até hoje mais de quatro mil cidadãos da Sérvia (incluindo Kosovo e Metohija) demonstraram interesse em processar a Otan devido aos seus próprios diagnósticos de câncer e diagnósticos de familiares que acreditam ter uma ligação direta ao bombardeio da Iugoslávia em 1999, onde o urânio foi usado.
A Otan já confessou ter lançado mais de 15 toneladas de urânio sobre Kosovo e Metohija e as partes do sul da Sérvia, como Presevo, Bujanovac e Vranje. Como resultado desses atentados, mais de trinta mil pessoas todos os anos na Sérvia são diagnosticadas com câncer, isso em um país que antes dos bombardeios de 1999 tinha menos de sete mil cidadãos diagnosticados com câncer todos os anos. A Sérvia é hoje o país da Europa com o maior número de diagnósticos de câncer e o segundo do mundo.
Andjelo Fiore Tartalja, advogado da Itália, faz parte da equipe jurídica de Srdjan Aleksic e o assessora em relação aos processos movidos contra a Otan em nome de cidadãos sérvios. Tartalja ganhou mais de 350 casos na Itália, onde provou que soldados e oficiais italianos das forças de manutenção da paz que estavam estacionados em Kosovo e Metohija (após os bombardeios), onde a maior quantidade de bombas de urânio foram lançadas, foram diagnosticados com câncer e muitos dos quais morreram como consequência direta do urânio das bombas da Otan. Em sua análise de sangue, 500 vezes mais metal foi encontrado do que o normal. Mais de sete mil soldados e oficiais italianos foram diagnosticados com câncer após seu serviço em Kosovo e Metohija e 400 morreram.
Também é importante destacar o fato de que não apenas na Sérvia houve um grande aumento nos diagnósticos de câncer, mas também em países vizinhos como Bulgária, Romênia, Macedônia do Norte e Bósnia e Herzegovina. Acredita-se que as partículas das bombas de urânio se expandam extensivamente após atingirem seu alvo (dependendo de uma série de fatores) e que leve mais de 4,5 bilhões de anos para o urânio se decompor e que permaneça no solo por milhares de anos.
Portanto, a OTAN não é apenas responsável por “crimes contra a humanidade” ao usar essas bombas e deixar para trás minas residuais, mas também cometeu o crime de ecocídio, onde danificou e destruiu o ecossistema e a biodiversidade da Sérvia. Embora isso ainda não tenha sido reconhecido como crime pela lei internacional, está sendo contemplado para que humanos, corporações e exércitos possam ser responsabilizados pelos crimes de poluição nociva”.
Na década de 2010, foi criado um Fórum permanente de meio ambiente em Veneza, por Adolfo Perez Esquivel, juízes europeus e ambientalistas, para discutir a criação de um tribunal penal internacional de crimes ambientais.