Tendo sido a economia, ao lado da imigração, o tema central da disputa eleitoral que deu a vitória a Trump nas eleições de 5 de novembro último, a pergunta que todos fazem é como ficará a economia americana no próximo governo?
Ninguém pode dizer ao certo qual será o rumo da política econômica dos Estados Unidos nos próximos quatro anos, mas um fato incontornável é que ela será influenciada em grande medida pelo perfil das pessoas que estão sendo indicadas por Trump para tratar do assunto. Embora na indicação dos principais assessores e responsáveis por questões chave, como imigração, educação, defesa e relações exteriores, Trump, aparentemente, esteja seguindo seus instintos, parece que, em economia, ele não está querendo arriscar muito. A indicação de Scott Bessent, um gestor de fundos hedge, para Secretário do Tesouro, cargo equivalente ao de Ministro das Finanças, é um sinal que a última coisa que ele deseja é desagradar Wall Street.
Conforme observou a revista inglesa The Economist (23/11), “Tanto a nomeação de Bessent quanto a maneira como ele foi escolhido oferecem pistas sobre a política econômica durante um segundo mandato de Trump”. Segundo a revista, “Bessent é um observador atento dos mercados e tem uma profunda compreensão da macroeconomia, o que lhe rendeu respeito em Wall Street. Em 1992, como um jovem gerente de portfólio da Soros Fund Management, ele avisou Stanley Druckenmiller, sócio da empresa, que o Banco da Inglaterra provavelmente não estaria disposto a defender a libra, já que a economia britânica estava em dificuldades. Druckenmiller e George Soros fizeram uma das negociações de fundos de hedge mais famosas e bem-sucedidas de todos os tempos: eles apostaram contra a libra esterlina e “quebraram o Banco da Inglaterra”, ganhando US$ 1 bilhão no processo. Quando Bessent começou a administrar seu próprio fundo em 2015, ele o fez com um investimento de US$ 2 bilhões de Soros.”
Ainda segundo a revista, “Bessent tem sido leal a Trump, doando generosamente para sua causa e disposto a largar tudo para aparecer na Fox News como um “conselheiro econômico” da campanha. Quando o fazia, falava sobre seu apoio à Trumponomics – querendo renovar os cortes de impostos implementados durante o primeiro mandato de Trump, delineando uma agenda agressiva de desregulamentação e elogiando o presidente eleito como um negociador habilidoso quando se tratava de travar guerras comerciais. Ainda assim, sua compreensão da economia provavelmente o levará a ter outras prioridades também. Em particular, Bessent parece se preocupar profundamente com a contenção da dívida do governo: ele caracterizou os grandes déficits e subsídios estatais da era Biden como um “retorno ao planejamento central” em um discurso em junho. Qualquer plano para reduzir o déficit quase certamente incluiria a eliminação dos subsídios verdes na Lei de Redução da Inflação (IRA), promulgada em 2022, que ele descreveu como uma “máquina do juízo final” orçamentária. Ele também, às vezes, pareceu morno sobre as tarifas maximalistas que Trump prometeu na campanha, descrevendo-as mais como uma posição de negociação do que uma política real (ele expôs algumas de suas ideias em um ensaio ao qual foi convidado em outubro). E ele parece menos inclinado a mexer com o dólar do que Trump, que muitas vezes lamentou a força da moeda. O fato de ele acreditar nas taxas de câmbio do mercado não é uma surpresa, dada sua carreira.”
Segundo o Financial Times (27/11), “No sábado, Donald Trump nomeou o titã dos fundos de hedge Scott Bessent como secretário do Tesouro, e os mercados financeiros suspiraram de alívio por um deles ter sido escolhido em vez de, digamos, o guerreiro tarifário Robert Lighthizer, representante comercial no primeiro mandato de Trump.” Afinal, Bessent é um dos deles.