Marcelo Godoy / Agência Estado
A Justiça Federal decidiu que a União foi responsável pelo “sequestro,
tortura, assassinato e ocultamento do corpo de Fernando Augusto de Santa
Cruz Oliveira”, assim como considerou “injuriosas” as insinuações da
Advocacia da União de que, talvez, o militante da Ação Popular (AP)
estivesse vivo.
O juiz José Carlos Garcia, autor da sentença de 7 de maio de 1997,
mandou que as expressões usadas pela advocacia fossem “riscadas dos
autos, por atentatórias à dignidade do Autor (Felipe Santa Cruz, atual
presidente da OAB) e à memória de seu pai”. O processo sobre o
desaparecimento do ativista político foi julgado pela 10.ª Vara Federal
do Rio. A decisão foi confirmada depois pelas instâncias superiores e
transitou em julgado.
Anexado ao processo está ofício de 5 de fevereiro de 1993, enviado pelo
ministro da Marinha, almirante Ivan da Silveira Serpa, ao ministro da
Justiça, Maurício Corrêa – à época da sentença, Corrêa presidia o
Supremo Tribunal Federal – no qual a Marinha informava que Oliveira fora
preso em 23 de fevereiro de 1974 e que desaparecera em companhia de
outro militante da AP, Eduardo Collier Filho.
Depois da Marinha, foi a vez de o ex-sargento Marival Chaves, que
trabalhou no Centro de Informações do Exército (CIE) e no Destacamento
de Operações de Informações (DOI), do 2.º Exército, dizer que Oliveira
havia sido sequestrado e morto em uma operação contra a AP.
A operação começara meses antes. A tenente Beatriz Martins, a agente
Neuza do DOI do 2.º Exército, confirmou ter participado da ação contra a
AP, inclusive prendendo em setembro de 1973 o ex-deputado estadual
Paulo Stuart Wright. Além dela, o sargento do Exército Massayuki
Gushiken, que trabalhou no DOI, afirmou ter visto Wright na grade de
presos do DOI e leu depoimento do preso. Wright ficou uma semana no DOI
antes que “desaparecessem com ele”.
Nenhum documento militar registra, nem mesmo o Projeto Orvil, livro
feito pelo Exército sobre o combate às organizações de esquerda, a
história contada por Jair Bolsonaro sobre a morte de Oliveira.
Bolsonaro
O presidente Jair Bolsonaro apresentou nesta segunda-feira uma versão
sobre a morte de Santa Cruz. Bolsonaro afirmou inicialmente que tinha
ciência de como o pai do atual presidente da OAB “desapareceu no período
militar”. Depois, disse que o militante foi morto por correligionários
na década de 1970. Felipe Santa Cruz disse que vai ao STF exigir que o
presidente fale o que sabe sobre o caso. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.