Japão lança água de Fukushima no oceano e gera revolta dos países vizinhos

    A decisão do Japão de liberar mais de 1,3 milhão de toneladas de água tratada utilizada para o resfriamento da usina nuclear de Fukushima Daiichi, que foi destruída por um terremoto e um tsunami em 2011, gerou alarme em todo o Pacífico, inclusive no próprio Japão.

    Apesar da Agência Internacional de Energia Atômica ter endossado o plano de descarte da agua, especialistas e a própria ONU alertam que se trata de uma decisão arriscada. Conforme noticiou o jornal New York Times (21/8), “O Japão tem 1.000 grandes tanques para armazenar água que tem sido usada para resfriar os núcleos destruídos do reator na usina de Fukushima. À medida que a capacidade dos tanques se esgota, o Japão pretende libertar gradualmente a água no oceano ao longo dos próximos 30 anos, depois de a filtrar e diluir para cumprir as normas regulamentares de Tóquio. Quando o plano foi anunciado pela primeira vez em 2021, a Food and Drug Administration dos Estados Unidos disse que não via “nenhum impacto na saúde humana e animal” se as águas residuais tratadas fossem descarregadas conforme proposto. Especialistas independentes nomeados pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas alertaram, no entanto, para “riscos consideráveis” para milhões de vidas e meios de subsistência na região do Pacífico.”

    Descartar a água utilizada para o resfriamento de usinas nucleares no oceano é um procedimento normal utilizado inclusive no Brasil, na usina nuclear de Angra dos Reios. Mas o caso específico da usina nuclear de Fukushima é mais complicado, uma vez que por conta do terremoto e do tsunami que destruíram a usina, em 2008, a agua foi contaminada com elementos radiativos prejudicais à saúde humana e ao meio-ambiente. O Japão alega que a água foi tratada e filtrada de modo que não haveria riscos, mas não é bem assim. Conforme informou o Financial Times (21/8), “A água contaminada foi tratada com um elaborado sistema de filtragem para remover a maior parte do material radioativo. No entanto, não existe uma maneira prática de filtrar o trítio, um isótopo radioativo do hidrogênio. O trítio tem meia-vida – o tempo necessário para que metade da substância radioativa inicial se desintegre – de 12,3 anos. A radiação pode ser perigosa para a saúde, mas o Japão afirma que a dose da água de Fukushima seria inferior a um sétimo do padrão de água potável da Organização Mundial de Saúde”.

    O país que será diretamente mais afetado é a Coreia do Sul, mas, provavelmente por razões políticas, afirmou não ver maiores problemas no plano japonês, o que gerou revolta na população coreana e forte reação do Partido Democrático, de oposição.

    Conforme destaca a já mencionada matéria do New York Times, “O que o Japão está tentando fazer não tem precedentes: não é água de arrefecimento comum de uma central nuclear normal que pretende despejar no mar; está repleto de todos os tipos de radionuclídeos perigosos provenientes dos núcleos dos reatores em fusão”, disse Seo Kyun-ryul, professor emérito de engenharia nuclear na Universidade Nacional de Seul. O Japão rejeitou outras opções de eliminação a longo prazo, como manter a água em terra através da adição de mais tanques, cavar um lago artificial ou misturá-la em argamassa, irritando os críticos na Coreia do Sul, na China e nos países insulares do Pacífico. “O Japão fez a escolha mais barata – simplesmente despejá-lo no oceano”, disse Park, o legislador em Seul “Pode obter benefícios econômicos com isso, mas perde a confiança das pessoas nos países vizinhos.”

    A China foi o país que reagiu de forma mais incisiva à ação japonesa. Hong Kong e Macau já baniram a importação de pescado e frutos do mar importados do Japão e a China continental estabeleceu procedimento rigoroso de inspeção dos produtos para verificar a presença de radiação nos peixes e crustáceos. A China críticas duras ao Japão afirmando que o oceano é um bem comum de toda a humanidade e não esgoto do Japão.

    Editorial do jornal chinês Global Times (22/8) afirmou: “Queremos apenas fazer uma pergunta simples ao governo japonês. Enquanto o Japão anuncia a hora do despejo, as regiões de Kanto e do norte do Japão sofrem com uma seca severa e alguns reservatórios de água agrícola na província de Niigata já secaram, resultando em culturas murchas em muitas terras agrícolas. Uma vez que o governo japonês garante repetidamente que a água contaminada com energia nuclear é segura, e até mesmo potável, por que não utilizar esta água para aliviar a seca? A região de Kanto não fica longe de Fukushima. Não é um enorme desperdício despejar no oceano água preciosa e segura para beber?”.

    Luís Antonio Paulino
    Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

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