Guerra da Ucrânia adquire novo curso mais sangrento e inútil em 2023

Depois de alguns reveses no final do ano passado, os russos retomaram a inciativa da guerra. A tomada da cidade de Soledar, anunciada pelo ministério da Defesa da Rússia, em 13/01, considerada um trampolim estratégico, abre caminho para uma ofensiva maior, visando consolidar o domínio russo no leste ucraniano. A partir dali será possível, em tese, cortar o suprimento das forças ucranianas em Bakhmut, cidade 10 vezes maior, localizada 15 km a sudoeste, que tem sido, há meses, palco de uma feroz batalha entre russos e ucranianos.

Segundo analistas militares, se Bakhmut cair, as chances de Putin conquistar os talvez 45% restantes de Donetsk que não estão em suas mãos crescem muito. Segundo o FT (14/01), “Moscou mobilizou 300.000 soldados desde setembro e os preparativos para uma nova mobilização estão “muito ativamente em andamento”, disse a autoridade ocidental. Os serviços de inteligência da Ucrânia informaram na sexta-feira que a Rússia pode estar pronta para recrutar mais 500.000 pessoas como parte de um plano “para criar um exército de cerca de 2 milhões”. Apesar da inexperiência das tropas, tal força pode lançar uma grande ofensiva ainda este ano, alertou Kiev”.

Diante disso, os Estados Unidos e seus aliados na Otan passaram a considerar a possibilidade de enviar armamentos mais pesados para os ucranianos, dentre os quais o poderoso sistema de defesa aérea americana Patriot e tanques ocidentais modernos, como o Leopard 2, da Alemanha. Militares ucranianos já estão sendo treinados para tirar o máximo proveito desses novos armamentos nas bases americanas na Alemanha e nos Estados Unidos. Conforme noticiou o Washington Post, “Os Estados Unidos e seus aliados da OTAN estão fornecendo um novo arsenal de armas móveis – tanques e veículos blindados pesados que, em teoria, permitiriam aos ucranianos conduzir uma guerra de manobra no estilo americano. Igualmente importante, a OTAN está fornecendo aos soldados ucranianos um curso intensivo sobre o uso eficaz dessas armas”.

Os alemães, que vinham resistindo em enviar os tanques Leopard 2, com receio de envolver-se diretamente no conflito, finalmente cederam à pressões dos Estados Unidos, do Reino Unido e da Polônia e anunciaram o envio dessas poderosas armas, mas não se sabe em que quantidade. Inicialmente se comprometeram em enviar 14 unidades e permitir que outros países que dispõem do mesmo equipamento os emprestem à Ucrânia. Polônia e Finlândia haviam prometido 25 deles no total. O Reino Unido disse que vai enviar 14 unidades no tipo Challenger 2 e os Estados Unidos estão finalizando os arranjos para enviar 30 tanques M1 Abrams. Os ucranianos pedem pelo menos 300 novos tanques para substituir os antigos fornecidos pela ex-URSS, que já não estão operacionais depois de 11 meses de conflito, mas não se pode saber se receberão a quantidade pretendida; provavelmente não.

Não é possível afirmar que a chegada desse armamento mais pesado representará uma mudança significativa nos rumos do conflito a favor dos ucranianos, uma vez que há muitos outros fatores a serem considerados, além do fato de que o treinamento para o uso efetivo desses novos equipamentos pode levar de três a seis meses. A própria entrega dos tanques não seria imediata. No caso dos tanques alemães, fala-se em três meses. Já no caso dos americanos o prazo é ainda mais longo: 12 meses, uma vez que ainda estariam sendo encomendados no fabricante. A única coisa a se afirmar com certeza é que a guerra se tornará ainda mais sangrenta.

O fato é a tendência de a guerra adquirir uma nova dinâmica em 2023. Como observou o Washington Post, “Para ambos os lados, 2023 verá tentativas de redesenhar linhas de batalha amplamente estáticas. Uma linha de frente de trincheiras no estilo da Primeira Guerra Mundial pode se tornar um campo de batalha mais fluido e imprevisível este ano”. As possibilidades de uma solução negociada estão cada vez mais remotas, mesmo porque não há de lado a lado um mínimo de confiança de que qualquer acordo seja respeitado. Como afirmou Mike Whitney do site Global Research, “A guerra na Ucrânia não vai terminar em um acordo negociado. Os russos já deixaram claro que não confiam nos Estados Unidos, então não vão perder tempo com uma conversa sem sentido. O que os russos vão fazer é buscar a única opção disponível para eles: vão destruir o exército ucraniano, reduzir grande parte do país a escombros e forçar a liderança política a cumprir suas exigências de segurança. É um curso de ação sangrento e inútil, mas realmente não há outra opção. Putin não vai permitir que a OTAN coloque seu exército hostil e silos de mísseis na fronteira da Rússia”.

Luís Antonio Paulino
Luís Antônio Paulino é professor doutor associado da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e membro da equipe de colaboradores do portal “Bonifácio”.

Não há posts para exibir

1 COMENTÁRIO

  1. O mal de nossa imprensa, é ser tendenciosa, pender pra um dos lados. O Paulino foi bem no artigo, até na última frase, então mostrou de que lado está.

Deixe um comentário

Escreva seu comentário!
Digite seu nome aqui