Renata Agostini / BRASÍLIA COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
O governo francês diz não estar preparado para ratificar o acordo entre União Europeia e Mercosul. Maior potência agrícola da Europa, a França é um dos países mais reticentes ao tratado porque teme os efeitos da concorrência externa para o seu agronegócio. A Irlanda também afirmou que vai realizar estudos antes da assinatura.
A França, maior potência agrícola europeia, não está preparada no momento para ratificar o acordo comercial assinado na sexta-feira entre a União Europeia (UE) e o Mercosul, após 20 anos de negociações, afirmou ontem a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye. “Vamos observar com atenção e, com base nesses detalhes, vamos decidir”, declarou em uma entrevista ao canal de notícias BFM.
Como fez durante as negociações do acordo comercial entre UE e Canadá, a França solicitará garantias aos países do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai), completou a porta-voz. “Não posso dizer que hoje vamos ratificar o acordo. A França, no momento, não está pronta para ratificar”, disse Ndiaye.
A França é um dos países mais reticentes ao acordo porque teme os efeitos para seu influente setor agrícola, que pode ser afetado pela grande entrada de produtos sul-americanos no mercado. Mas não é o único que mostrou resistência.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, disse que o governo realizará uma avaliação econômica completa sobre o impacto da íntegra do acordo sobre a Irlanda, acrescentando que votará contra ele se os riscos superarem os benefícios.
Sua fala veio após uma intervenção do ministro da Agricultura, Michael Creed, que disse que Dublin não está sozinha no questionamento, citando França, Bélgica e Polônia como países aos quais a Irlanda se uniu anteriormente para expressar preocupações. “O que temos é uma Comissão Europeia em suas últimas horas fechando um acordo que nenhum Estado-membro ou Parlamento nacional aceitou. É um acordo ruim, não faz sentido dizer outra coisa, é um acordo ruim para o setor de carne bovina”, disse Creed à emissora RTE.
Revisão. “Nada do que está no acordo é surpresa aos Estadosmembros da União Europeia”, rebateu, porém, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Ernesto Araújo, em Brasília.
O chanceler brasileiro disse que, como o texto final ainda passa por revisão jurídica, nenhum país signatário está pronto para ratificá-lo. O ministro demonstrou ainda incômodo com a postura dos europeus de colocar os compromissos ambientais como uma obrigação somente do Brasil.
Também ontem, o ministro do Meio Ambiente francês, François de Rugy, afirmou que o acordo Mercosul e União Europeia só será ratificado pela França se o Brasil respeitar seus compromissos, referindo-se ao combate ao desmatamento na Amazônia.
Segundo Araújo, há muitos méritos na política ambiental do Brasil “seja na Amazônia ou em outros biomas” e o País tem “total compromisso” contra o desmatamento. “Esse tema se coloca como se fosse apenas de interesse europeu, mas é de interesse nosso também. Muitos países europeus têm uso de agrotóxico por hectare maior que o do Brasil.”
“Também esperamos ver implementados, inclusive, os compromissos deles, que são os países desenvolvidos, como desembolsos de recursos para financiamento de energias renováveis”, completou. Segundo o ministro, cabe à Comissão Europeia esclarecer ao governo francês que esses compromissos internacionais estão previstos no acordo e que o Brasil e os demais membros do Mercosul concordaram em segui-los. O chanceler disse não esperar que haja atrasos significativos na ratificação do acordo na Europa, já que haverá pressão também por parte dos setores que irão se favorecer com o tratado.